Resiste o Santa Cruz do Sol Nascente

O Acampamento Santa Cruz do Sol Nascente em Carinhanha, no oeste da Bahia, resiste!

Na quinta feira dia 6 de janeiro, por volta das 9 horas da manhã, tropas da PM de Barreiras, de Carinhanha e também a policia do cerrado (polícia militar especial da região que presta serviços as prefeituras), acompanhadas por oficiais de justiça, pelo latifundiário Raimundo Pedro e sua filha advogada Adriana Costa, chegaram de surpresa no acampamento para realizar a ação de reintegração de posse.

No momento, todos trabalhavam, pois as autoridades federais e municipais haviam jurado de pé junto, antes das eleições, que qualquer ação de reintegração de posse seria avisada antecipadamente, e mesmo que não ocorreria antes que o INCRA cumprisse suas promessas de vistoriar, desapropriar e entregar as terras reivindicadas para as quase 80 famílias que lutam por terra em Carinhanha há pelo menos 05 anos, sendo que nos últimos dois anos, produzindo e vivendo no Acampamento Santa Cruz do Sol Nascente.

Todos trabalhavam, são mais de 50 hectares de roça, que pelo menos até hoje estão vingando, o que é raro na região de clima quente e seco.

A covarde ação policial – estatal – latifundiária

Quando o trator, às 5 horas da tarde começou a passar por cima de tudo, as famílias se reuniram na frente dos barracos de telhas para impedir que a ação prosseguisse, o trator quebrou e o oficial de justiça comunicou que a ação continuaria no dia seguinte.

As famílias retiraram dos barracos os bens de maior valor e peso e guardaram, tiraram as telhas dos barracos ameaçados, permaneceram na área. Mas na calada da noite escura, o ronco do trator soou mais uma vez, escoltado por policiais fortemente armados e guiado pelo comandante da operação. O trator foi derrubando o barraco mais próximo da estrada e passando por cima de parte das roças.

As famílias fizeram um mutirão para salvar os barracos dos companheiros que não estavam no acampamento.  A juventude do acampamento corria entre as plantações, se aproximava dos policiais e do trator, se esquivava de suas lanternas e gritava com ódio: “tropa de covardes”, “desgraçados, isso não vai ficar assim”… A operação durou até as 2 horas e 30 minutos da madrugada!

Carinhanha resiste e apoia o Acampamento Santa Cruz do Sol Nascente

A covarde destruição dos barracos, a ação policial sem que nenhuma notificação fosse entregue aos camponeses (como nenhuma decisão da justiça chegou aos camponeses nestes últimos dois anos para que seus advogados pudessem fazer a defesa jurídica), só poderia mesmo ser executada às escuras. Durante o dia, dezenas de vizinhos, membros do Comitê de Apoio, o Sindicato dos Trabalhadores Rurais, representantes dos quilombolas da região que também lutam por terra e sofreram ações de despejo, todos foram se solidarizar com os camponeses do Santa Cruz do Sol Nascente. Alguns chegaram mesmo a dormir na área.

Pela manhã as famílias se reuniram e fizeram novos barracos, contabilizaram os prejuízos. Todos estavam bem, vários foram chegando e se abraçando fortemente, alguns agradecendo aos outros pelo cuidado com seus pertences, cantaram o “Conquistar a terra”, e a bandeira da Liga, que não havia sido retirada, mas que o vento castigara, foi refeita e reerguida!

Crime! Latifundiário tentou envenenar a água!

Às 10 horas o latifundiário Raimundo Pedro arrogantemente entrou na área com um capanga e se dirigiu a cisterna, algumas famílias viram quando ele com um vidro de veneno e uma bomba tentou lançar na água, mas foi impedido, num grito todos correram para o local e vitoriosamente os camponeses se impuseram ao ladino. O que ele tentava fazer era um verdadeiro assassinato coletivo!

Vamos seguir lutando!

O INCRA prometeu terra e não cumpriu até hoje. O Governador Jacques Wagner comanda a polícia. E a prefeita de Carinhanha “Chica do PT”, eleita com discurso radical, não defendeu nenhum camponês que luta contra a miséria e pela terra na cidade, e virou uma cordeirinha dócil a serviço do latifúndio. Desse velho Estado o povo só pode esperar repressão!

Estes são motivos que confirmam que não devemos confiar em nenhuma destas instituições do Estado que são coniventes e executoras do massacre do povo e dos camponeses pobres. É o que tem acontecido na Bahia e em todo o país, com a matança indiscriminada de camponeses que lutam por “Terra para quem nela trabalha!”.

Há quase dois anos nossas famílias se encontram nesta terra e mesmo sob ameaça de reintegração de posse, há um ano e sete meses, temos produzido e prosperado. A truculência com que a polícia invadiu o acampamento, usando um trator para derrubar barracos e destruir roças que nos custaram tanto suor e trabalho só é explicada pelo ódio que o latifundiário tem ao ver que nós não somos obrigados a trabalhar como escravos e podemos tirar o nosso sustento do nosso próprio trabalho. Não é a toa que sua própria filha veio admirar pessoalmente o trabalho sujo da polícia.

Nossa resposta é que não vamos sair das terras e nem abandonar nossos 50 hectares de roças feitas com tanto sacrifício! O povo da região também respondeu nos apoiando, comparecendo, prestando solidariedade, nos incentivando a continuar lutando. Nos apóiam porque estes latifundiários só tem trazido o atraso para o povo de nossa região. Com a produção de nossas roças temos comercializado na cidade e todos sabem que somos pessoas de bem, e que o que queremos é trabalhar, tirar da terra o nosso sustento!

As ameaças continuam, mas também continua firme a vontade de lutar! Dizem que vão voltar para retirar as famílias, mas estamos dispostas a tudo para conquistar de vez nosso pedaço de terra. Não aceitaremos ameaças e covardia!

Viva a resistência do acampamento Santa Cruz do Sol Nascente!

Abaixo a truculência e violência da PM!

Morte ao latifúndio! Terra para quem nela vive e trabalha!

Liga dos Camponeses Pobres do Norte de Minas e Bahia

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