Viva a heroica resistência armada dos camponeses de Corumbiara!

Neste 9 de agosto de 2023, completam-se 28 anos da inesquecível e heroica resistência armada dos camponeses de Corumbiara. Em 1995 o latifúndio e o velho Estado tentaram afogar em sangue a luta camponesa pela terra e assim paralisar as tomadas de terra na região e no país afora. No entanto, as 600 famílias acampadas na antiga fazenda Santa Elina opuseram heroica resistência armada contra a repressão sangrenta e o que era para ser só mais uma chacina virou uma batalha.

Depois que todas as investidas de bandos armados de pistoleiros foram derrotadas pelos camponeses, os latifundiários pressionaram o então governador Valdir Raupp (PMDB) a autorizar a aplicação de um plano de massacre financiado pelos latifundiários Antenor Duarte do Vale (militar reformado) e Hélio Pereira de Morais, este que se apresentava como proprietário daquela fazenda.

Na madrugada do dia 9 de agosto, tropas da PM e pistoleiros recrutados nas fazendas da região, usando fardamento da polícia, iniciaram os ataques ao acampamento. Após horas de tiroteio, quando acabaram as munições dos camponeses, a PM assassina invadiu o acampamento. Depois de rendidos, os camponeses sofreram humilhações, torturas e execuções a queima-roupa, chegaram a fuzilar pelas costas a pequena Vanessa, de apenas 7 anos. Entre outras inúmeras bestialidades, detiveram o jovem camponês Sérgio Rodrigues Gomes, que tinha sido ferido no confronto e o transportaram para a sede da fazenda, onde ele foi submetido a todo tipo de torturas por muitos dias até matá-lo, lançando seu corpo dilacerado num rio da região, e dias depois o assassinaram o companheiro Manoel Ribeiro, o Nelinho, vereador de Corumbiara que apoiava a luta camponesa e as famílias acampadas na fazenda.

Oficialmente, até hoje, registra-se que 11 camponeses foram assassinados e dois policiais mortos, mas vários outros ficaram desaparecidos desde então. Centenas ficaram com sequelas físicas e psicológicas e como consequência disso muitos falecerem posteriormente. O terrorismo de Estado só não resultou em mais mortes graças à heroica resistência armada dos camponeses, que mesmo em condições desiguais, enfrentou heroicamente os assassinos da polícia de Rondônia e pistoleiros armados até os dentes.

Os sinistros planos de aterrorizar os camponeses e frear a luta pela terra, foi frustrado. A repressão sangrenta gerou enorme solidariedade e fez explodir o ódio das massas, levantando uma onda de novas tomadas de terra por todo o país.

Após lutas cobrando indenização e tentativas de retomar aquelas terras, em 2010 centenas de famílias dirigidas pela LCP e pelo Codevise – Comitê de Defesa das Vítimas de Santa Elina, retomaram as terras da maior parte da fazenda, conquistando-as definitivamente. Em meio a muitas lutas e enfrentando todo tipo de dificuldade, as massas camponesas venceram e concretizaram parte do sonho das famílias de 1995, e hoje nas terras da antiga Santa Elina, agora áreas Zé Bentão, Renato Nathan, Alzira Monteiro, Alberico Carvalho e Maranatã 1 e 2, vivem e produzem milhares de famílias.

Quando se completaram 25 anos da batalha de Santa Elina (2020), centenas de camponeses tomaram o restante das terras da ex-fazenda Santa Elina, atualmente conhecida como fazenda Nossa Senhora Aparecida, e levantaram o acampamento Manoel Ribeiro, em Chupinguaia. As famílias dirigidas pela LCP, enfrentaram e derrotaram bandos armados do latifúndio composto por policiais, e também derrotaram gigantesco aparato de guerra mobilizado contra as famílias pelo governador de Rondônia, coronel Marcos Rocha, que como pau mandado cumpriu as exigências dos latifundiários da região e do seu chefe à época, Bolsonaro. As famílias resistiram com todos os meios que tinham disponíveis ao cerco e ataques diuturnos da polícia, e colocaram muitas vezes a PM pra correr. Depois de muitos meses sendo repelidos e sem nunca ter conseguido penetrar na área Manoel Ribeiro, a PM sitiou toda região, bloqueou as estradas e caminhos da região praticando todo tipo de abusos contra o povo, cercou o acampamento com descomunal contingente policial, inclusive tendo reforços de tropas da Força Nacional de Segurança, enviadas pelo governo federal, e prepararam um plano para prender, assassinar lideranças, e realizar nova chacina de camponeses.

Quando os policiais levaram a termo seu plano e invadiram o acampamento, se depararam com a área vazia e com uma faixa que tanto os assombra: “Voltaremos mais fortes e mais preparados!” Na véspera e na escuridão da noite as famílias se retiraram de forma muito organizada sem serem vistos, debaixo das barbas dos covardes da PM, impondo assim mais uma derrota moral aos comandantes da tropa de imbecis e massacradores de gente pobre desarmada, e toda a canalha de politiqueiros que os dirige. E é certo, que assim como desde agosto de 1995 prometemos durante anos seguidos conquistar as terras da Santa Elina, e o cumprimos na maior parte, a promessa de que voltaremos mais fortes e mais preparados para conquistar essas terras regadas com sangue camponês e indígena, se cumprirá mais dia menos dias. Que tremam os latifundiários e seus cupinchas!

O exemplo da heroica resistência armada dos camponeses em 1995, conduziu a luta pela terra para outro rumo, foi um divisor de águas na luta pela terra no Brasil, ao romper com toda a prática oportunista e de traição aos camponeses. Foi a mãe do movimento camponês de novo tipo no país. Desde então os camponeses passaram cada vez mais a enxergar que somente a Revolução Agrária entrega terra aos pobres no campo, que nada podemos esperar dos sucessivos governos de turno a não ser engano, migalhas e repressão. E foi seguindo esse caminho que inúmeras áreas camponesas foram conquistadas em Rondônia e em várias outras parte do país, tomadas da mão do latifúndio ladrão de terras da União, cortadas em pequenas parcelas e entregues aos camponeses pobres sem terra ou com pouca terra. Não há caminho fácil para a conquista da terra, assim tem sido ao longo de séculos em nosso País, mas com uma direção conscientemente forjada, politização das massas, organização, combatividade e aplicando a linha da Revolução Agrária se pode enfrentar e vencer o latifúndio, seus pistoleiros e seu braço armado nas forças policiais covardes e sanguinolentas do seu velho Estado.

Exemplo também muito importante e recente foram as lutas duras e sangrentas ocorridas na Área Tiago Campim dos Santos, onde milhares de famílias enfrentaram com muita combatividade todo tipo de ataque de guaxebas, grupos para-militares e diferentes forças policiais em várias gigantescas operações. Ainda que pagando um custo alto com prisões e morte de companheiros, as massas camponeses da Área Tiago Campim dos Santos e as do entorno resistiram a todas as investidas, infringiram duros golpes no latifúndio e no velho Estado e conquistaram muitas vitórias, e a maior delas a conquista das terras que seguem na posse dos camponeses.

Da parte desse velho Estado nada podemos esperar a favor do povo. Todos mandantes e executores dos crimes cometidos em agosto de 1995, seguem impunes. Da mesma forma seguem impunes mandantes e executores de várias chacinas de camponeses, inclusive os covardes assassinos do BOPE, que ceifaram a vida dos nossos companheiros Gedeon, Rafael, Amarildo, Amaral, Kevin, Rodrigo, Raniel entre tantos outros. Mas não se esqueçam senhores, estamos fazendo as contas e pagarão caro! Como diz uma de nossas canções, “o risco que corre o pau, corre o machado”, “aquele que manda matar também tem que morrer!”

Desse atual governo, menos ainda se pode esperar algo a favor do povo além de migalhas. Basta ter olhos pra ver! Em 1995 Luiz Inácio em campanha eleitoral esteve na fazenda Santa Elina, prometendo terra, indenizações aos camponeses, e punição para mandantes e executores das bestialidades cometidas. Mas quando foi eleito, nada fez e sequer recebeu as famílias organizadas do CODEVISE, quando estes estiveram por cerca de um mês acampados em Brasília, em 2009, para cobrar as promessas. Nos 14 anos anteriores (2003 a 2015) em que estiveram no governo nada fizeram para mudar a realidade agrária no campo, de indecente concentração de terras nas mãos de um punhado de parasitas, os latifundiários (pomposamente chamados de agronegócio), ladrões de terra da União. Menos ainda farão com este atual governo da aliança reacionária de banqueiros com o oportunismo. Como já ocorre, e se não bastasse todas as benesses e privilégios dos latifundiários ao longo dos sucessivos governos, através do tal Plano Safra, presentearam agora com R$ 364 Bilhões os latifundiários ladrões de terra da União e devastadores das florestas e do meio natural, valores que superam inclusive o destinado anteriormente pelo desembestado Bolsonaro, descarado defensor dos latifundiários. Por outro lado para o que chamam de “agricultura familiar”, os que realmente colocam comida na mesa da população, como sempre, apenas migalhas.

Mais do que nunca segue vivo o exemplo da resistência armada dos camponeses de Corumbiara, e de tantas outras heroicas lutas em áreas que seguem o caminho da Revolução Agrária!

Mais do que nunca devemos seguir o caminho da Revolução Agrária, único caminho possível para destruir o latifúndio e entregar terra a quem nela trabalha, sentando assim base para varrer com a secular dominação do sistema latifundiário, democratizar a propriedade da terra, e conduzir nosso país para uma Nova Democracia, unindo trabalhadores do campo e da cidade, e criar um Brasil Novo, onde o povo possa de fato governar, garantir seus direitos e aspirações, e fazer verdadeira justiça!

Honra e glória eternas aos heróis da resistência camponesa armada de Corumbiara!

Honra e glória eternas aos heróis do povo brasileiro que verteram seu sangue na luta pela Revolução Agrária!

Morte ao latifúndio! Viva a Revolução Agrária!

LCP – Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia e Amazônia Ocidental
Agosto de 2023

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