Viva o Corte Popular!

Bandeira vermelha

Ao fazer a distribuição dos lotes da fazenda Antinha (Sapecado) no Município de Perdizes/MG; hoje área Bandeira Vermelha, a LCP concluiu ali um grande passo, dos muitos que virão pela frente. Ali foi dada uma lição de persistência e muita luta contra todos os inimigos dos camponeses pobres.

O latifundiário

Já apodrecido e comido pela terra pelas quais eles faziam tantas maldades, Moacir Ribeiro Guimarães mais conhecido como “bunda larga”, junto com seu pai Pedro Guimarães (Pedro da zinha) foram grandes grileiros de terras e perseguidores de posseiros na região. As histórias de expulsão dos posseiros, aonde ele e seu pai chegavam armados e ordenavam a retirada são muitas. Mudavam ou destruíam as cercas de divisas, corriam atrás das viúvas e seus filhos, trocava a terra do posseiro por carro de milho ou banda de porco na mira da arma, agredia os funcionários escravizados das fazendas e muitas outras histórias. Com isto montaram grandes fazendas nos municípios de Sacramento, Perdizes, Patos de Minas e outras regiões, formando grandes latifúndios.

A tomada da fazenda Antinha (Bandeira Vermelha)

Durante mais ou menos três meses foram mobilizadas as famílias e preparado o plano para a tomada da terra. O local do acampamento deveria ter condições de defesa, pois era certeza que o latifundiário mandaria os pistoleiros. As comissões para trabalhos coletivos foram sendo organizados desde os responsáveis por coordenar cada grupo de famílias até cada responsável de grupos de trabalhos que se dividiam em comissão para a cozinha coletiva, para o transporte de água, de lenha, de segurança, de saúde, de educação e de produção.

Duas horas da madrugada do dia 22 de março de 2002, dezenas de famílias entravam naquela terra e começavam a entoar várias palavras de ordem, entre elas uma que dizia: nem que a luta engrossa esta terra é nossa! Era a certeza que com a disposição de luta daquelas famílias aquela terra seria dos camponeses pobres. Dois dias depois apareceu a policia e o latifundiário dizendo ser “amigo” dos camponeses pobres. Na noite deste mesmo dia apareceu elementos estranhos rondando o acampamento. Três dias depois começa a investida de pistoleiros contra os camponeses ali acampados. Era por volta da meia noite quando o guarda do pé de pequi abaixou ainda mais rente ao chão e em seguida zunia sobre sua cabeça a saraivada vindo da arma de repetição do pistoleiro. Esta mesma cena se repetiu ao mesmo instante em vários outros pontos de vigilância do acampamento. Todos os guardas acionaram imediatamente seus foguetes em direção aos pistoleiros. As bombas explodiam em cima dos pistoleiros que mudavam de posição. Por mais de meia hora os camponeses sustentaram com apenas foguetes a investida de jagunços armados até os dentes. Durante mais ou menos três meses por quase todas as noites era a mesma rotina. Nas manhãs seguintes a estes dias, todos levantavam cambaleando de sono, acalmando as crianças assustadas. A pergunta também sempre eram as mesmas: será que eles voltam logo?

Os camponeses eram detidos em Araxá e Perdizes até por distribuírem panfletos. Por varias vezes o latifundiário, sua polícia e imprensa tentaram armar crimes contra os camponeses. E anunciaram dezenas de vezes a ida da força da polícia para fazer a chamada reintegração de posse à força.

No mês de outubro aconteceu uma das primeiras reuniões da recém criada Vara Agrária do estado de Minas Gerais. Sem condições de apresentar documentos que legitimasse ser dono daquelas terras os representantes do latifundiário aceitaram o acordo com o estado para desapropriá-la. Foi comemorado como uma grande vitória, mas veio o alerta de um companheiro que disse o seguinte: até aqui já tivemos vários enfrentamentos e foi o que nos deu a vitória, mas é importante que continuemos organizados para lutar agora contra o estado que vai querer nos enrolar, pois se não continuarmos lutando e só esperando a boa vontade do estado, perderemos.

O tempo foi passando várias viagens para ouvir do representante do governo no INCRA a mesma coisa. Que os documentos do processo de desapropriação já estavam em Brasília. No início de 2004 o latifundiário fez um processo ilegal de divisão da fazenda entre os filhos. Isto já era uma combinação com gente do governo para em seguida expulsarem os camponeses pobres. No final do ano reuniram em Araxá um representante do INCRA o Sr. Niltom, o Sr. Gercino da procuradoria de Brasília, a Sra. Tereza do sindicato de trabalhadores rurais de Araxá, onde fecharam um acordo para expulsar as famílias da fazenda Antinha (Bandeira Vermelha). Em março de 2005 os camponeses pobres receberam a notificação do INCRA que aquela terra não seria mais desapropriada, ou seja, pelo INCRA todos tinham que sair da terra.

Muitas famílias foram desistindo e o pior que os que ficaram passaram a receber propina do latifundiário e até cachaça para desorganizá-los. Mas o movimento organizou dezenas de famílias ali, acabou com a propina do latifundiário e também com a cachaça. A palavra de ordem nem que a luta engrossa essa terra é nossa! volta a vibrar com tamanha força. No meio do ano de 2006 é tomada a sede da fazenda. Os trabalhadores organizados tomam também as vacas leiteiras tiram leite e fazem queijos. Toda a fazenda já estava sobre o controle dos camponeses pobres. Cresce o ódio do estado e do latifundiário, mas os camponeses estão dispostos a enfrentar os reacionários. Nem mesmo uma grande tropa da polícia que invade o acampamento e agride companheiros os intimidam, tinham certeza da vitória.

Em mais uma audiência em 2007 se confirmou toda esta luta política dos camponeses, as terras da fazenda Antinha eram deles. Não vacilaram e imediatamente se organizaram para mais um passo, fazer o corte popular, pois não pode mais vacilar, não pode esperar pelo governo, tem que fazer com as próprias mãos. Neste último maio de 2008, foi distribuído pela LCP os 42 lotes da fazenda Antinha cortados pelo corte popular para a alegria de mais 40 famílias.

Viva o Corte Popular!

Cortar todos os latifúndios esta é a única maneira de livrar nosso país de todo atraso miséria e opressão que representa o sistema semifeudal latifundiário. A revolução agrária é o único caminho pelo qual os camponeses pobres podem conquistar seu tão sonhado pedaço de chão, cortar todas as terras com as próprias mãos sem esperar nenhuma enrolação dos órgãos do governo. Na luta pela terra o oportunismo das direções do MTL, MLST, MST, Fetaemg, etc. sempre tenta frear a luta dos camponeses com promessas de que o Incra irá conceder um pedaço de terra e acabar com o sofrimento dos camponeses pobres. O que só fazem é frear a luta das massas pobres. Por isto a LCP, vem convocando todos os camponeses à realizarem o Corte Popular, dando um certeiro golpe em todo o latifúndio.

No mês de abril deste ano a Assembleia Popular (AP) da área Bandeira Vermelha tomou uma grande decisão: “Iniciar o corte de toda a fazenda e dividi-la entre os camponeses pobres”.

Logo foram criados os grupos de ajuda mútua do corte popular. Os companheiros se revezavam nas tarefas do corte; uns carregavam os equipamentos, outros carregavam água, enquanto os demais abriam picadas para passagem. O trabalho, apesar de pesado, foi muito rápido, pois contou com a participação de todos os companheiros da área. Á noite os companheiros mal dormiam, pois tinham vontade de que amanhecesse logo para voltarem ao trabalho. Este trabalho durou todo o mês de abril e meados de maio e foi sem dúvida a jornada de trabalho mais alegres de todos, pois estavam trabalhando para a construção de seus sonhos: cortar com as próprias mãos seu pedaço de terra, sem depender de enrolação ou mentiras de nenhum órgão do governo de plantão. No dia 11 de maio se realizou a festa do sorteio do corte que contou com a participação de companheiros de outras áreas.

A organização da festa ficou a cargo de toda a área e contou com apresentação de grupos musicais, além de uma apresentação de teatro do grupo de jovens. A festa foi maravilhosa e teve muita fartura e uma bela organização. A emoção de muitos companheiros durante o sorteio era visível. Muitos pulavam de alegria, outros tinham um brilho nos olhos, um brilho de uma alegria há muito esperado, um brilho que era a felicidade de se ter conquistado uma vitória que custou muito suor e luta!

Tudo isto foi o coroamento de todo um processo de luta iniciada na madrugada do dia 22 de março de 2002. Madrugada chuvosa e escura que regou toda a terra para nossa vitória de hoje, a vitória do corte, e agora continuaremos preparando o solo, para novas vitórias, a vitoria da produção, a vitória de novas tomadas, fazer avançar a revolução agrária na região e em todo o país e continuar nossa luta até a vitória final!

image_pdfimage_print