Viva os 26 anos da heroica resistência camponesa armada de Corumbiara! O sangue derramado na Santa Elina corre em nossas veias!

Acampamento Manoel Ribeiro, em agoso de 2020 onde famílias tomaram as últimas terras da antiga Santa Elina

O heroísmo dos camponeses de Corumbiara deve ser sempre celebrado pois é exemplo de que nada é impossível quando as massas decididas se organizam em luta. Todo terror concentrado na madrugada até a tarde do dia 9 de agosto de 1995 não foi capaz de parar a luta pela terra. A Liga dos Camponeses Pobres (LCP) foi fundada no Norte de Minas e se expandiu no País a partir desta luta histórica e sempre jurou honrar e fazer justiça àqueles heróis. Desde então estamos cumprindo nosso juramento avançando a Revolução Agrária, com tomadas de terra vitoriosas em várias partes do Brasil e 15 anos depois da batalha, conquistamos a maior parte da antiga fazenda Santa Elina, onde hoje vivem e trabalham mais de 600 famílias.

Em agosto de 2020, quando completou-se 25 anos da heroica resistência de Corumbiara, centenas de camponeses dirigidos pela LCP tomaram a fazenda Nossa Senhora Aparecida, última parte das terras encharcadas de sangue indígena e camponês da antiga Santa Elina, e organizaram o Acampamento Manoel Ribeiro.

Sob o lema de que a Assembleia Popular manda e decide sobre tudo, as famílias deram solução coletivamente à alimentação, produção, arrecadação, construção, limpeza, cuidados de saúde com medidas de controle e prevenção sanitária da atual pandemia e com as crianças, corte e distribuição das terras, segurança, resistência, agitação e divulgação, educação, recreação, etc.

Quem se diz o dono da fazenda é o latifundiário Antônio Borges Afonso, que contratou um bando de pistoleiros, incluindo policiais militares, pagando R$ 900 por dia a cada um, para tocarem o terror contra os acampados. Estes crimes foram tão descarados que obrigou o judiciário, sempre defensor do latifúndio, a acatar denúncia da Defensoria Pública de Vilhena e decretar a prisão de vários pistoleiros, sendo 4 policiais, em março de 2021.

O coronel PM Marcos Rocha, governador de Rondônia, marionete de latifundiários e pau mandado de Bolsonaro, dispôs todo seu aparato policial para defender os interesses do latifundiário. Fato icônico: colocou para comandar pessoalmente a repressão seu secretário de segurança, coronel José Hélio Cysneiros Pachá conhecido como o carniceiro de Santa Elina, pela sua atuação nos episódios de 9 de agosto de 1995.

A pistolagem antes ilegal foi oficializada pelo velho Estado através dos aparatos policiais que passaram a intensificar o cerco e ataques ao Acampamento, utilizando helicópteros, drones, bombas, balas de borracha e inclusive munição letal. Mas as famílias não se intimidaram e elevaram sua organização e defesa com estilingues, pedras, escudos de madeira, foguetes, bandeiras, palavras de ordem e canções de luta, impulsionadas pela necessidade de um pedaço de terra para viver e trabalhar e a cada dia mais conscientes da justeza de sua luta e de estarem honrando os heróis e heroínas de Santa Elina.

Marcos Rocha seguiu com o cerco e ataques mesmo após o judiciário suspender a ordem de despejo, enquanto correu a Brasília para pedir socorro ao governo federal que atendeu prontamente, enviando a força nacional de segurança e reforçando o que chamam de serviços de inteligência – espiões da agência brasileira de inteligência (Abin), forças armadas e aparatos clandestinos do velho Estado.

Agentes clandestinos, camuflados de funcionários da empresa elétrica Brasluz, entre outras, somaram-se aos policiais fardados no ataque covarde às áreas vizinhas ao Acampamento Manoel Ribeiro infernizando a vida das famílias da região: jogaram bombas, arrombaram residências, invadiram lotes e cortaram cerca, incendiaram moto e ameaçaram de morte apoiadores da luta, espancaram, prenderam e fizeram interrogatórios e revistas humilhantes de todos que passavam nas estradas locais. Tudo sem nenhum tipo de ordem judicial, ao arrepio da lei. As aulas remotas e a vacinação contra a Covid-19 foram interrompidas devido a esta tirania.

E estenderam a repressão contra a luta pela terra em outras regiões do estado: por duas vezes em menos de 60 dias invadiram a sede da LCP, em Jaru, e despejaram vários acampamentos e áreas revolucionárias onde centenas de famílias viviam e produziam há anos. E como sempre, a repressão policial veio articulada com nova campanha de criminalização e demonização da LCP e a luta pela terra, capitaneada por Bolsonaro, Marcos Rocha e a imprensa venal pró-latifúndio. Em dois eventos públicos o fascista Bolsonaro citou nominalmente a LCP, difamando-nos de terrorista e ameaçando-nos. Trata-se de manobra de guerra contrainsurgente para justificar a violência contra camponeses, inclusive execuções de qualquer ativista supostamente vinculado à Liga. Os verdadeiros terroristas em Rondônia são os latifundiários ladrões de terra, seus bandos armados e o velho Estado, que há décadas cometem toda sorte de crimes contra indígenas e camponeses e agora são impulsionados com o aval do fascista e genocida Bolsonaro.

O sangue derramado na Santa Elina corre em nossas veias!

Voltaremos mais fortes e mais preparados!

A repressão que já vinha crescendo, escalou ainda mais, deixando claro os planos sinistros do velho Estado de promover outro massacre de trabalhadores honrados. Longe de arrefecer, só aumentou o ódio de classe, a combatividade e organização dos camponeses do Acampamento Manoel Ribeiro. Resistimos bravamente por meses a cercos e ataques diários, inclusive de madrugada, e repelimos todas as tentativas da polícia de invadir o acampamento, impulsionados pela bandeira da Revolução Agrária e estandartes dos heróis de Corumbiara.

Para nós foi ficando cada vez mais claro a disposição desse governo serviçal dos latifundiários de cometer novo massacre, ainda mais após carta branca e reforço vindo do fascista e genocida Bolsonaro, jogando contra nós uma força de centenas de tropas sedentas de sangue dos pobres que levantam a cabeça e as encaram com decisão e coragem. Entre nós não faltou quem se dispusesse a enfrentar a situação tão extrema e fazer esses criminosos pagarem caro e na mesma moeda. Mas depois de avaliar a situação sabendo dos sinistros planos desses bandidos governantes em derramar sangue do povo em luta, compreendendo que cumprimos uma jornada vitoriosa para a Revolução Agrária, que tanto forjou a todos do Manoel Ribeiro, contando ainda com tanto apoio de nosso povo na região, por todo o país e de companheiros e companheiras de todo o mundo, decidimos por unanimidade em nossa Assembleia Popular nos retirar de forma organizada para voltar em milhares e mais preparados para varrer os latifúndios da região.

Todo aparato e tantos ataques não intimidaram a ninguém do acampamento e só serviu para treinar e adestrar nosso povo na resistência. Que vergonhoso fracasso dos inimigos do povo!

Executamos a decisão tomada na Assembleia Popular, retiramos de forma exitosa todas as famílias na calada da noite, embaixo das barbas da corja de policiais armados até os dentes. Quando o bando de covardes e abestados finalmente conseguiu invadir o acampamento se depararam com a área vazia e a faixa que tanto os assombra, “VOLTAREMOS MAIS FORTES E MAIS PREPARADOS!”

Esta luta de classes – de um lado a sanha repressiva do latifúndio e seu velho Estado, do outro lado a resistência camponesa vitoriosa do Acampamento Manoel Ribeiro – destacou a questão agrária camponesa no debate nacional, elevou a propaganda da Revolução Agrária e mostrou ao povo que é possível vencer batalhas contra tropas reacionárias armadas até os dentes! Imagens da luta combativa se espalharam pelo país e ganharam o mundo, despertando a solidariedade classista de organizações, movimentos e personalidades democráticas que têm repercutido as denúncias e prestado apoio ativo à LCP.

Como vaticina nosso hino: “Já chega de tanto sofrer, já chega de tanto esperar! A luta será tão difícil, por mais que demore vamos triunfar!”

Fora das nossas áreas, polícia guaxeba do latifúndio ladrão de terra da União!

Conquistar a terra! Destruir o latifúndio!

Viva a resistência do Acampamento Manoel Ribeiro!

Faixa deixada no Acampamento Manoel Ribeiro após a retirada das famílias

Liberdade imediata aos 4 presos políticos

do Acampamento Manoel Ribeiro!

Mesmo após o judiciário ter suspendido a ordem de despejo e ter proibido a polícia de atacar o Acampamento Manoel Ribeiro, os PMs mantiveram o cerco e as provocações, agindo como pistoleiros fardados. Os jovens acampados Ezequiel, Luiz Carlos, Estéfane e Ricardo, foram atropelados, agredidos e presos por policiais, no dia 14 de maio. Os militares mentiram que foram emboscados pelos acampados e que a jovem Estéfane atirou contra eles.

Como mais uma peça da engrenagem do velho Estado, o judiciário iniciou mais um processo farsa, que tramita aceleradamente para condenar os presos políticos pelos crimes forjados de organização criminosa, roubo de terras, tentativa de homicídio e outros. A juíza Lilian Pegoraro Bilharva, de Vilhena, conhecida por suas sentenças anti-povo e anti-camponês e pró-latifúndio conduziu a primeira audiência cheia de arbitrariedades e parcialidade. Negou todos habeas corpus aos presos, desconsiderando as provas incontestes de inocência, como as gravações das câmeras dos drones e viaturas policiais que filmaram as prisões ilegais e mostram os camponeses soltando fogos de artifício a longa distância quando viram as viaturas chegando e se retirando, sem ninguém atirar na polícia. Entre outras irregularidades a juíza ainda prejudicou os advogados de defesa e proibiu a participação virtual de organizações democráticas, apesar de a legislação determinar que julgamentos sejam públicos.

Outros dois acampados, que já tinham sido injustamente presos pela polícia em março, foram condenados a dois anos de prisão.

Como não conseguiram prender e despejar todo acampamento nem parar a luta pela terra, o velho Estado tenta vingar nos 4 presos políticos e nos demais presos e processados a derrota política e militar que sofreu. E segue a velha prática de tratar como crime o problema social mais urgente do país: a democratização da posse e propriedade das terras.

Em várias partes do Brasil e do mundo segue firme a campanha pela liberdade e fim dos processos contra os bravos camponeses do Acampamento Manoel Ribeiro e de defesa da Revolução Agrária, com faixas, cartazes, panfletos, pichações, palestras, abaixo-assinado, manifestações atos e ações em frente a consulados brasileiros de vários países.

Liberdade imediata para os companheiros Ezequiel, Luiz Carlos, Estéfane e Ricardo!

Abaixo a criminalização da luta pela terra! Terra para quem nela trabalha!

Só a Revolução Agrária entrega terra aos pobres no campo!

O velho Estado prossegue a campanha de perseguição e criminalização da luta pela terra. A polícia continua atuando junto com os novos pistoleiros da fazenda Nossa Senhora Aparecida – mal disfarçados de “empresa de segurança” – patrulhando as estradas e aterrorizando os moradores da região.

O fascista Bolsonaro apresentou um projeto que dá carta branca para agentes do velho Estado assassinarem e não serem nem incomodados com investigação e processos, mais do que já fazem. E decretou nova “GLO” com a desculpa de combate a incêndios, mas, em anos anteriores, militares do exército em helicópteros não desembarcaram em nenhuma grande madeireira e latifúndio e sim nas áreas camponesas sem incêndio algum, onde invadiram casas, ameaçaram e torturaram trabalhadores em busca de informações sobre lideranças e a LCP.

Tropas da força nacional de segurança se somaram à PM e pistoleiros em vários ataques contra famílias das áreas Tiago dos Santos e Ademar Ferreira, no município de Porto Velho, chegando a agredir e humilhar trabalhadores durante blitz em estradas locais e a atirar de fuzil e escopeta calibre 12 em direção a camponeses.

Com o reforço das tropas federais e aparatos de inteligência, as polícias assassinas de Marcos Rocha dispararam várias operações midiáticas, custeadas com recursos públicos. Na “Operação Canaã” prenderam 17 camponeses e o carniceiro de Santa Elina coronel Pachá ameaçou que em breve farão novas prisões. Em plena pandemia, despejaram várias áreas onde vivem e produzem centenas de camponeses, sendo o mais recente o Acampamento Valdiro Chagas, em Machadinho d’Oeste. Advogados de defesa dos 4 presos políticos do Acampamento Manoel Ribeiro foram ameaçados e estão sendo seguidos por agentes a paisana.

Como sempre, disfarçadas de proteção das Reservas Ambientais e Indígenas e de combate à grilagem de terras e crime organizado, na verdade estas operações tentam reprimir a LCP e todos camponeses em luta pela terra e defender latifundiários exterminadores dos povos indígenas, massacradores dos camponeses pobres, ladrões de terras públicas, maiores contaminadores e destruidores da natureza, principal base da subjugação nacional!

Berreiro e repressão contra a LCP não vão parar a luta pela terra

Se engana quem acha que vai parar a luta pela terra com repressão. O terror em 1995 não parou a luta pela terra e não vai parar agora. Enquanto a terra estiver concentrada nas mãos de um punhado de latifundiários parasitas da Nação, os camponeses continuarão lutando pela terra, independente da vontade de quem quer que seja.

Tamanho terrorismo por parte dos inimigos do povo, tendo à frente o fascista Bolsonaro, mais fiel defensor do latifúndio, só nos dá a certeza de que estamos no caminho certo. E ensina aos pobres do campo que conseguirão sua “terra prometida” somente através da Revolução Agrária e não por algum governo ou falastrão de plantão.

Onde avança a Revolução Agrária, com as tomadas de latifúndios, corte da terra e distribuição de lotes aos camponeses pobres sem-terra ou com pouca terra, ocorre uma mudança radical para melhor na vida dos posseiros, pequenos e médios comerciantes e demais trabalhadores. Reduz o desemprego, aumenta a produção de alimentos, fortalece o mercado local, avança a economia das cidades no entorno. Enquanto o latifúndio só gera imensos desertos verdes, a Revolução Agrária leva vida nova aos rincões mais afastados do país! Por isso, Bolsonaro e os milicos tremem diante da bandeira vermelha da LCP: eles sabem que nenhuma mentira, nenhuma repressão pode encobrir os fatos incontestáveis.

Numa manobra desesperada para salvar a velha ordem putrefata do colapso, desde 2013 o Alto Comando das Forças Armadas (ACFA) desencadeou um golpe militar preventivo, que vem avançando passo a passo. Embora sejam inimigos acérrimos das massas em luta, os generais e Bolsonaro travam entre si uma luta surda pela direção deste golpe contrarrevolucionário.

Muito ao contrário do que dizem os capituladores e oportunistas, que esperam embaixo da cama as próximas eleições como remédio para deter o fascismo, nós afirmamos que eleição não muda nada a favor do povo. É só farsa e encenação de democracia, onde o povo é obrigado a escolher quem continua oprimindo o país para sustentar meia dúzia de parasitas das classes dominantes, mantendo a secular subjugação nacional, opressão e exploração sobre o povo.

Só a mobilização das mais amplas massas em luta pode barrar o golpe contrarrevolucionário e iniciar uma Grande Revolução que realizará as verdadeiras transformações a favor do povo e da nação, construindo um Brasil novo, uma verdadeira e Nova Democracia.

E como parte destas transformações de que o país precisa a luta camponesa pela terra é um fantasma a assombrar os algozes do povo. A Revolução Agrária é crucial para os destinos de todo o povo brasileiro. Bolsonaro e seu governo militar genocida tentam nos intimidar, mas o sangue camponês não afoga, mas rega, a sagrada luta pela terra! Ao longo da história, resistindo da forma que podiam, os camponeses foram capazes das maiores façanhas e heroísmos para defender a sua vida e os seus interesses e o fará uma vez mais, agora com maior clareza e sabedoria.

Conclamamos todos camponeses, operários, estudantes, trabalhadores em geral, entidades e pessoas democráticas de todo país a se lançarem impetuosamente na luta combativa e independente por seus direitos mais sentidos, no apoio e defesa da Revolução Agrária como parte da Revolução de Nova Democracia!

Abaixo o governo militar genocida de Bolsonaro!

Contra a crise, tomar todas as terras do latifúndio!

Viva a Revolução Agrária, morte ao latifúndio!


A Batalha de Santa Elina nunca será esquecida

Famílias camponesas nas terras da fazenda Santa Elina em 1995

Em 1995 o latifúndio e o velho Estado tentaram afogar em sangue a luta camponesa pela terra e assim paralisar as tomadas de terra na região e no país afora. No entanto, as 600 famílias acampadas na antiga fazenda Santa Elina opuseram heroica resistência armada contra a repressão sangrenta e o que era para ser só mais uma chacina virou uma batalha.

Durante a segunda metade de julho todas as investidas dos bandos armados de pistoleiros haviam sido derrotadas pela resistência dos camponeses com armas rudimentares de caça. Para levar adiante o massacre planejado, os latifundiários pressionaram o então governador Valdir Raupp (PMDB) que autorizou a ação genocida da polícia militar. Os latifundiários da região Antenor Duarte do Vale (militar reformado) e Hélio Pereira de Morais financiaram a repressão.

Na madrugada do dia 9 de agosto, tropas da PM e pistoleiros recrutados nas fazendas da região, usando fardamento da polícia, iniciaram os ataques ao acampamento. Após horas de tiroteio, quando acabaram as munições dos camponeses, a PM assassina invadiu o acampamento. Depois de rendidos, os camponeses sofreram humilhações, torturas e execuções a queima-roupa: a pequena Vanessa Santos, de 7 anos, foi fuzilada pelas costas quando tentou escapar correndo, líderes da resistência foram caçados, sequestrados e torturados, um camponês teve os olhos furados, outro foi obrigado a comer parte do cérebro de um outro cuja cabeça fora esmagada a coronhadas de fuzil, entre tantas outras bestialidades. O jovem camponês Sérgio Rodrigues Gomes foi levado ferido numa caminhonete da fazenda e seu corpo foi encontrado após 14 dias, com marcas de prolongadas torturas. Pouco tempo depois, também foi assassinado na porta de sua casa, em Corumbiara, o vereador Manoel Ribeiro, o Nelinho, que apoiou as famílias durante toda a ocupação.

Ao todo 11 camponeses foram assassinados e vários desapareceram. Mais de 200 ficaram com sequelas físicas e psicológicas e muitos companheiros faleceram posteriormente devido ao agravamento físico e mental causados pelas torturas. O terrorismo de Estado só não resultou em mais mortes graças à heroica resistência armada dos camponeses, mesmo em condições desiguais contra os assassinos da polícia de Rondônia e de pistoleiros armados até os dentes.

Os mandantes e o velho Estado até hoje seguem impunes. Houve uma farsa de julgamento onde três líderes camponeses foram condenados e presos! Da parte do bando assassino, os mandantes sequer foram acusados e apenas um soldado foi sentenciado culpado, mas respondeu em liberdade. Dois oficiais que ajudaram a dirigir o terrorismo de Estado cometido contra os camponeses de Corumbiara em 1995 foram absolvidos e depois ainda foram promovidos: Mauro Ronaldo Flores Corrêa era tenente, chegou a coronel e foi comandante-geral da PM de Rondônia; José Hélio Cysneiros Pachá, era capitão chegou a coronel e é o atual secretário de segurança do governador fantoche dos latifundiários Marcos Rocha. Pachá, hoje posa de bom moço e personalidade da cúpula de segurança do governo, mas não é a toa que é chamado de carniceiro de Santa Elina. Em 1995, esta figura abjeta e covarde foi o comandante do Comando de Operações Especiais, principal unidade que promoveu as maiores barbaridades contra os camponeses já rendidos.

Nos dias seguintes à batalha, quando as famílias iam se reencontrando diziam: “Vamos retomar Santa Elina!” A coragem superou o medo, porque tinham a certeza de que sua luta era justa, que precisavam de terra para trabalhar. Ao contrário do que o latifúndio esperava, a repressão sangrenta gerou enorme solidariedade e fez explodir o ódio das massas, levantando uma onda de novas tomadas de terra por todo o país.

A resistência camponesa armada em Corumbiara foi um divisor de águas na luta pela terra no Brasil, ao romper com toda a prática oportunista de negociações com órgãos do governo e traições aos camponeses. Foi a mãe do movimento camponês de novo tipo no país, dando origem à LCP.

Companheiros e companheiras de várias partes do país se juntaram ao apoio às famílias resistentes de Santa Elina e assume com juramento solene prosseguir a luta por sua retomada completa. A Liga Operária e Camponesa de então, com a heroica resistência camponesa de Corumbiara, defende a criação do Movimento Camponês Corumbiara e com este decide separar em duas organizações específicas: Liga Operária e Liga dos Camponeses Pobres. Assim a LCP surge primeiro no Norte de Minas na retomada das lutas dos posseiros de Cachoeirinha e com a luta contra o oportunismo no MCC cria a LCP de Rondônia Amazônia Ocidental, s expandindo pelo país o movimento camponês revolucionário. Nos anos posteriores à Batalha de Santa Elina lutamos contra as forças oportunistas acovardadas que se opunham a retomada da fazenda e levando a frente várias outras tomadas no Estado. Apoiamos a criação do Comitê de Defesa das Vítimas de Santa Elina (Codevise) e encabeçamos a luta pela punição dos mandantes e assassinos, por tratamento de saúde e indenização de todos camponeses vitimados. Organizamos o acampamento em Brasília, em 2007, com camponeses que sofreram torturas e familiares que perderam seus entes queridos naquela luta e por 23 dias pressionamos o governo do então presidente Luiz Inácio que cumprisse as promessas demagógicas que fez aos camponeses em 1995, de que caso eleito presidente do país um dia, cortaria toda a fazenda Santa Elina, puniria os mandantes e assassinos e indenizaria as vítimas. Mas em 2007, Luiz Inácio sequer recebeu os trabalhadores e mesmo depois de quase 14 anos do PT pendurado no gerenciamento do velho Estado, não cumpriu suas promessas.

Depois de uma tentativa falha em 2008, os camponeses mais preparados e firmemente dirigidos pelo Codevise e LCP, em 2010, conquistaram quase toda fazenda Santa Elina, onde hoje vivem e produzem mais de 600 famílias camponesas. Após muitas lutas, grande parte do sonho dos camponeses de 1995 realizou-se, nas Áreas Zé Bentão, Renato Nathan, Alzira Monteiro, Alberico Carvalho, Maranatã 1 e 2. Por manobras e acordos secretos do PT no INCRA, do sinistro Ouvidor Agrário Gercino Silva e dos pelegos da FETAGRO com os supostos herdeiros das terras da Santa Elina já dividida em várias fazendas, foi mantida fora da desapropriação uma parte das terras (a fazenda Nossa Senhora Aparecida) que permaneceu nas garras do latifúndio.

Seguindo a luta organizada e combativa os camponeses conquistaram energia elétrica, construção de estradas e pontes, escola, postos de saúde e continuam lutando para conquistarem a titulação definitiva de suas terras, preço justo para sua produção, maquinários, assistência técnica e contra multas e repressão dos diferentes órgãos do velho Estado.

Os combatentes de Santa Elina ajudaram a demarcar o caminho da Revolução Agrária, de muitas dificuldades e sacrifícios, o único que dá terra ao camponês pobre, que é capaz de destruir o latifúndio e iniciar a construção de uma Nova Democracia e um Brasil Novo, unindo com a luta dos operários e demais trabalhadores do campo e da cidade.

Honra e glória eternas aos heróis da

Resistência Camponesa Armada de Corumbiara

Rendemos nossas mais profundas homenagens e honras aos heróis do povo tombados na Batalha de Santa Elina que derramaram seu precioso sangue pela conquista daquelas terras, pela Revolução Agrária, por Justiça e uma Nova Democracia em nosso país: Sérgio Rodrigues Gomes, Vanessa dos Santos Silva, Manoel Ribeiro “Nelinho”, Maria Bonita (uma camponesa não identificada que o povo homenageou com este apelido), Ari Pinheiro dos Santos, Alcindo Correia da Silva, Ênio Rocha Borges, Ercílio Oliveira de Campos, José Marcondes da Silva, Nelci Ferreira, Odilon Feliciano, Oliveira Inácio Dutra, Jesus Ribeiro de Souza e Darli Martins Pereira.

LCP – Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia e Amazônia Ocidental

Comissão Nacional das Ligas de Camponeses Pobres do Brasil

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