Tropa mercenária do latifúndio é desarticulada em Nova Mutum/RO

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Reproduzimos abaixo notícia publicada em 22 de novembro de 2022, por Gabriel Artur, em www.anovademocracia.com.br

 

Assembleia Popular das Áreas Tiago Campin dos Santos e Ademar Ferreira, 2 de outubro de 2021

Tropa mercenária do latifúndio é desarticulada em Nova Mutum/RO

Uma operação das polícias civil e federal e do Ministério Público (MP) comprovou o que denunciou, por anos, o movimento camponês de Rondônia: a existência de grupos paramilitares fortemente armados, a soldo do latifúndio, envolvendo policiais e pistoleiros. Mais de cinco mandados de prisão preventiva, dentre eles um advogado, foram cumpridos. Também um mandado de “afastamento de função pública” e 32 mandados de buscas em Porto Velho, Ariquemes, Vilhena, Cassilândia (MS) e Brasília (DF) foram executados.

Segundo a investigação, os envolvidos – dentre os quais estão policiais militares, policiais civis, delegados da Polícia Civil e pistoleiros – foram pagos e estavam ao serviço da empresa Leme Empreendimentos Ltda, de propriedade de Antônio Martins, o “Galo Velho”, que é denunciado pelos camponeses em luta na região como “um conhecido e criminoso grileiro de terras públicas”.

Os grupos armados do latifúndio, nesse caso, atuaram ampla e impunemente contra a Área Revolucionária Tiago Campin dos Santos, que ocupou as terras da empresa do “Galo Velho”, em Nova Mutum-Paraná (RO), e seguem nela. Em novembro de 2021, uma grande operação tentou expulsar as mais de 800 famílias camponesas, através da mobilização de 3 mil tropas das forças policiais, sob direção política das Forças Armadas reacionárias, e combinadas com as tropas mercenárias investigadas.

Ainda segundo a denúncia do MP, os sicários recebiam diária para cometer abusos e execuções sumárias usando armamento e viaturas oficiais das forças policiais. O grupo ainda lavava dinheiro e fraudava processos judiciais de desapropriação de terras. A partir do afastamento do sigilo bancário dos investigados foi possível identificar movimentações financeiras superiores a R$ 445 milhões, sendo efetivamente comprovado o pagamento de valores aos servidores contratados para a função de bando paramilitar particular do latifúndio.

CAMPONESES JÁ HAVIAM DENUNCIADO ATUAÇÃO DA PISTOLAGEM

A existência de um bando paramilitar composto por PMs e pistoleiros na região já havia sido denunciado à exaustão pela Liga dos Camponeses Pobres (LCP) e pelo portal Resistência Camponesa. Em 13 de julho de 2021, o portal Resistência Camponesa denunciou, com imagens exclusivas, a atuação de pistoleiros portando fuzis com mira telescópica juntamente com a Força Nacional de Segurança e a Polícia Militar (PM) de Rondônia. Os militares reacionários, juntos, dispararam 15 vezes com rifles, fuzis e escopetas contra os camponeses assim que se depararam com bloqueios nas estradas levantados pelas famílias dos acampamentos Tiago dos Santos, Ademar Ferreira e Dois Amigos.

Já em 13 de agosto de 2021, nas primeiras horas da manhã, uma incursão da Força Nacional de Segurança e pistoleiros assassinou, com tiros disparados desde helicópteros e também de agentes que estavam escondidos na mata, os camponeses Amarildo, Amaral e Kevin enquanto estavam trabalhando. A LCP denunciou o crime: “Amarildo Aparecido Rodrigues e seu filho Amaral José Stoco Rodrigues foram assassinados enquanto estavam trabalhando roçando mato no lote que possuem. Kevin Fernando Holanda de Souza foi morto pelas costas enquanto pilotava sua moto tentando escapar dos policiais assassinos. Os projéteis de fuzil disparados por policiais atravessaram o corpo e a moto do camponês. Amarildo tinha 49 anos, era casado e tinha outro filho pequeno; Amaral, de 17 anos, estava concluindo o ensino médio, além de trabalhar na roça; Kevin completou 21 anos recentemente, também estava trabalhando no lote que conquistou com sua esposa, grávida, o único filho que o casal poderá ter”.

Sobre esse episódio, o portal Resistência Camponesa afirmou que “o que ocorreu foi um ataque sorrateiro e criminoso de pistoleiros, PM e Força Nacional contra camponeses que estavam trabalhando. O crime que esses camponeses cometeram foi se organizarem para lutar por um pedaço de terra para viver com dignidade. ‘Crime’ imperdoável para o latifúndio, ladrões de terras da União e o velho Estado que o serve.”. Além disso, também denunciou que os “policiais seguem realizando operativos na região enquanto pistoleiros fortemente armados transitam no local, e não se pode aceitar que sigam impunemente cometendo crimes contra os camponeses. Os crimes cometidos pelo velho Estado devem ser rigorosamente investigados, e os mandantes e executores punidos.”. E tratando da atuação da Força Nacional juntamente aos pistoleiros, afirmou que “as centenas de famílias da área Ademar Ferreira são testemunhas do fato inconteste de que a Força Nacional de Bolsonaro participou da chacina, com tropas e viaturas. Desde que chegou em Rondônia já tirando vidas causando acidentes em estradas, as tropas da Força Nacional tem atuado junto com a PM e pistoleiros do latifúndio em ataques contra camponeses nessa mesma área, inclusive realizando disparos contra as famílias”. Os negritos são destaques da redação.

BANDOS DO LATIFÚNDIO ATUARAM NA OPERAÇÃO ‘NOVA MUTUM’

Em outubro de 2021, os camponeses Gedeon José Duque e Rafael Gasparini Tedesco foram assassinados por comandos especiais da PM-RO durante uma operação militar. Servindo aos interesses dos latifundiários ladrões de terra da União, Bolsonaro, o governador pau mandado coronel Marcos Rocha e o então secretário de segurança pública coronel Hélio Pachá, “o carniceiro de Santa Elina” como dizem os camponeses, desataram a Operação “Nova Mutum”. Naquela ocasião, quando verdadeiro aparato de guerra foi mobilizado, bandos armados do latifúndio e dezenas de pistoleiros atuaram junto à Força Nacional de Segurança e PM para cercar e tentar despejar as mais de 800 famílias da Área Revolucionária Tiago Campin dos Santos.

Durante os dias que se sucederam, as forças policiais do velho Estado promoveram um verdadeiro estado de sítio nas áreas organizadas pela LCP na região, violando direitos dos camponeses irem, virem e permanecerem em suas posses e terem acesso à água e alimentação. O tentativa de despejo violento atravessou a noite e madrugada em vários locais, sem a presença de oficiais de justiça.

A HEROICA RESISTÊNCIA CAMPONESA NAS ÁREAS TIAGO DOS SANTOS, ADEMAR FERREIRA E 2 AMIGOS

Mais de 800 famílias resistiram heroicamente e derrotaram à Operação “Nova Mutum”: mesmo mobilizando mais de 3 mil tropas (entre agentes da Força Nacional de Segurança, PM e pistoleiros, dirigidos de forma encoberta pelo reacionário Exército brasileiro), o governo do latifúndio sequer pôde adentrar na maior parte da área, não conseguindo despejar a maioria das famílias. Estradas e caminhos foram bloqueados com toras de madeiras e pelo menos 15 pontes foram incendiadas, segundo nota da Comissão Nacional da LCP.

O portal Resistência Camponesa afirmou sobre esta grandiosa luta que “os camponeses se dividiam para derrubar pontes e a vigilância em pontos estratégicos, para avisar antecipadamente a chegada da polícia. E cumpriam todas estas tarefas sem deixar de trabalhar nas roças e criações. Mesmo cansada, a massa estava muito feliz por ter êxito em impor resistência e sabotar a injusta agressão da reação.”.

E prosseguiu: “O forte aparato repressivo que invadiu a Área Tiago dos Santos, avançava bem devagar, evidenciando o medo dos policiais, corajosos para matar gente pobre desarmada. Quando centenas de policiais fortemente armados com fuzis, bombas e escudos, apoiados por helicóptero, chegaram na Vila Alípio de Freitas, os camponeses não se intimidaram, as mulheres e crianças se posicionaram na frente, sem temer, todos agitavam as bandeiras vermelhas da LCP, entoavam com vigor as canções de luta e palavras de ordem.”.