Cartas

Não aceitamos esta humilhação

Elza F. Garcia – Moradora de Jacinópolis

No dia 16 de agosto de 2007 surgiu um incêndio a mais de 1700 metros de meu lote. Eu estava no barraco com meu neto de 9 meses e com minha filha caçula de 14 anos. Quando avistei o incêndio me assustei e pensei logo na minha lavoura de café. Neste dia minha família ficou até as 10 horas da noite tentando apagar o fogo.

Leia, divulgue e defenda o jornalO incêndio queimou 500 covas de banana, 200 pés de café já produzindo e 500 pés de mandioca.

No dia 18, agentes da SEDAM chegaram no meu barraco pedindo documentos, eu estava apavorada, eles falaram que eu era responsável pelo incêndio e me obrigaram a assinar uma multa de 20 mil reais. Meu marido não estava em casa.

Pediram para que eu fosse até Nova Mamoré junto com outras duas famílias vizinhas, multadas no mesmo dia.

Fomos para Guajará-Mirim. No IBAMA, o chefe nos explicou que era só na SEDAM. Quando fomos na SEDAM o chefe não estava, só um representante. Falamos que éramos de Jacinópolis, ele se assustou e começou a gaguejar, pediu para procurar o promotor de justiça, que nós precisávamos de um advogado, aí eles pediram que a gente procurasse a SEDAM de Nova Mamoré. Quando chegamos lá explicaram para o meu marido, que teria que recorrer antes de vencer 20 dias da multa, caso não fizesse isso eu seria presa. Comecei a chorar.

Nós temos 6 mil covas de banana variadas, 4 mil pés de café produzindo, moramos aqui há 4 anos, as pessoas aqui são trabalhadores. Queremos quebrar a liminar do estado. Não aceitamos esta humilhação.


Nós não destruímos a natureza

Armando Menezes – Morador de Jacinópolis

Na região de Jacinópolis temos uma grande produção. Quando só existiam latifúndios aqui não havia produção. No ano passado enquanto 80 famílias derrubaram 40 alqueires para produzir, a fazenda Botelho derrubou 700 alqueires e a produção deles foi jogar semente de capim pra criar boi.

Nós não destruímos a natureza como eles falam, nós construímos. Quando derrubamos para plantar o arroz, o milho, feijão, café, cacau, além das frutas e hortas, estamos matando a fome de centenas de pessoas que antes viviam jogadas nas cidades.


Que os camponeses não curvem a cabeça

Firmino Gomes – Nova Conquista – União Bandeirantes

Ocupamos uma área de terra que é da União em 2003, logo que começamos a trabalhar fomos perseguidos por Odailton Martins que é chefe de pistolagem da fazenda Mutum.

Em 2004, guaxebas colocaram madeireiros para retirar a madeira de 21 marcações e depois nos despejaram alegando ser área de reserva. Fomos ameaçados por policiais com armas pesadas e obrigados a deixar a área, queimaram uma pilha de arroz de 25 metros. No dia, estávamos apenas em 3 companheiros.

Um tempo depois voltamos para a área, plantamos café, milho, feijão, arroz, banana e as famílias todas produziram. Novamente houve uma liminar de despejo. Tratores foram usados para destruir tudo que tínhamos.

Em dezembro de 2007 voltamos para a área, eu vivo da terra, me dispus de corpo e alma ocupar a área, plantei 200 covas de banana, milho, arroz, cana, frutas. O pistoleiro Odailton Martins e policiais de Jaci-Paraná nos colocaram na rua e queimaram os barracos. No outro dia fiz o barraco no mesmo lugar e não arredei. Voltaram com a polícia de Porto Velho e um oficial de justiça, eu estava moendo um café na casa do vizinho, fui ameaçado, algemado, tomaram minhas ferramentas. Eu disse ao oficial de justiça que não podia invadir a casa de uma pessoa sem autorização e que ele estava passando por cima da lei. Ameaçaram até os vizinhos por nos apoiarem.

Fui parar no Urso Branco, tocaram boi na minha roça e perdi tudo. Fiquei três meses preso, depois fui transferido para Machadinho, onde fiquei mais um mês preso.

Tenho 60 anos e devido a isto estou doente com pneumonia.

Não é possível no meio de tanta terra e água os camponeses passarem necessidade. Nosso estado é dominado por latifundiários que são os grandes derrubadores.

O INCRA não faz nada! E nós não abrimos mão.

O objetivo nosso é se unir com fé e coragem, junto com a LCP, vamos pra cima do que é nosso! Quando a gente luta por terra lutamos por vida. Que os camponeses não curvem a cabeça e se juntem, como um braço forte e daremos um grito só contra a fome e a miséria e ocuparemos todas as terras do latifúndio.

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