Só o povo organizado vai acabar com o analfabetismo!

Adultos e crianças participam da Campanha de AlfabetizaçãoA Escola Popular lançou a ideia: o povo deve resolver com suas próprias mãos o analfabetismo de jovens e adultos, maior problema da educação. Com todo entusiasmo camponeses abraçaram a Campanha de Alfabetização, pensaram e debateram, arregaçaram as mangas e botaram mãos à obra! Contaram com amigos sinceros que ajudam sem querer ganhar nada em troca. A cada visita de casa em casa, a cada reunião e assembleia a ideia inicial foi sendo incrementada, apurada. O povo não fez só o trabalho braçal, tão importante, dirigiram toda a construção de verdadeiras Escolas Populares, tijolo por tijolo, segundo seus interesses.

E o que estava na cabeça de todos foi se transformando em realidade concreta. Camponeses, contribuintes, professores, médios proprietários vizinhos contribuíram com trabalho, alimentos, dinheiro e materiais. Cada um dava o que podia. E o pouco de cada um foi juntando e virou muito.

Mais uma construção coletiva

O trabalho coletivo de camponeses do Raio do Sol e de apoiadores construiu um lindo barracão que serve para as Assembleias, para as aulas, para festas e celebrações religiosas.

Esta construção foi uma lição para todos da força do povo unido num objetivo comum. No início, quando estavam arrecadando os materiais, muitos não acreditavam que o barracão sairia. Mas alguns camponeses tomaram a frente de todas as etapas da construção e com o trabalho unido da maioria ele foi erguido.

Duas turmas no Raio do Sol

Adultos e crianças participam da Campanha de AlfabetizaçãoOs alunos que ainda não sabem ler nem escrever e a professora, que é uma camponesa da área formam a turma da 1ª fase e já começaram a desvendar os mistérios das letras e palavras. Aqueles que já sabem ler e escrever estudam na turma da 2ª fase, onde melhoram o que já sabem, trabalham a interpretação de texto. Precisamos entender o que lemos! E também aprimoram sua matemática, afinal, quem vai pagar a conta tem que conferi-la.

No final de 2009 a Escola Popular também ofereceu aulas de reforço às crianças. Aos sábados eles se reuniram por 4 horas. As tarefas começavam no campinho com futebol e pula-corda. Criança tem que brincar! Já no barracão, tinha a hora da cantoria e de fazer arte. As crianças produziram vários desenhos bonitos, criativos e cheios de cor. Depois, tinha a hora de reforçar as contas de matemática, e por incrível que pareça, as crianças gostavam muito e a professora quase não dava conta de tantos pedidos de exercícios e correções.

Uma turma no Canaã

No Canaã estão funcionando duas turmas de alfabetização de um projeto do governo. A Escola Popular apóia os professores deste projeto, ajudou na divulgação e na montagem das turmas, na formação dos professores e na preparação das aulas. Em pouco tempo de aula alguns alunos já aprenderam a ler e escrever as primeiras palavras. Em outra parte da área Canaã, a Escola Popular está com uma turma de 1ª fase.

As professoras nunca tinham dado aula para jovens e adultos. Assim como os alunos estão aprendendo a ler e escrever, elas estão aprendendo a dar aulas. Elas tiveram suas primeiras noções de como dar aulas no curso de formação da Campanha de Alfabetização. E também têm se ajudado umas às outras, se reunindo para prepararem as aulas.

As mulheres estão na frente da Campanha de Alfabetização

Em quase todas as tarefas da Campanha as mulheres tiveram um papel destacado. Elas foram as que mais debateram e deram ideias, elas que puxaram todos os camponeses, quase todos professores são mulheres, algumas estão dando aula até sem receber.

É claro que elas não estão trabalhando sozinhas e nem é este o objetivo da Escola Popular, que quer unir toda a coletividade. Celebração do dia das crianças no Canaã / Raio do SolMas há um incentivo para que as mulheres dirijam a Escola Popular, primeiro por que na maioria das vezes são elas que acompanham a vida escolar dos filhos, portanto elas têm mais experiência nesta área. Segundo, para que as mulheres possam assumir a responsabilidade por uma tarefa coletiva. Com isto, ela não fica só dentro de casa e mostra na prática que tem a mesma capacidade que o homem para dirigir algo de importante para todos. As mulheres sempre participam ativamente das tarefas da luta e da vida coletiva, mas quase nunca assumem cargos de direção por conta do machismo que impera na sociedade de classes. Esta é uma ideia das classes dominantes imposta para manter metade do povo fora de combate, enfurnada em casa, tendo toda sua energia absorvida pelas tarefas domésticas. A Campanha de Alfabetização tem sido um importante instrumento tanto para homens como mulheres romperem com este atraso.

Confraternizações e atividades recreativas aumentam a união do povo

Festas organizadas pelos camponeses celebram aniversariantes do mêsQue bonito é ver o povo trabalhando, lutando e vivendo com união! E nossa vida não pode ser só trabalho e luta, também tem que ter diversão, prática de esportes e arte. Nestas atividades os camponeses aproveitam para  conhecer melhor uns aos outros.

Uma animada festa do Dia das Crianças foi a primeira atividade realizada no barracão do Raio do Sol. A ideia partiu de uma das várias reuniões de mulheres sobre a Campanha de Alfabetização. Elas arrecadaram os brinquedos e doces que foram distribuídos e sorteados, os ingredientes do enorme bolo com suco que foi servido com fartura para todos. No dia, as crianças brincaram de corrida, corrida de saco e cabo de guerra. No final, até os adultos entraram na farra. Ao todo, participaram 85 pessoas, inclusive camponeses do Canaã e sítios vizinhos.

As mulheres ainda organizaram o dia dos pais, também teve uma celebração religiosa, e decidiram fazer todos os meses uma festa com os aniversariantes do mês para ninguém ficar sem comemorar. Em todas teve bolo e suco e os ingredientes foram arrecadados de casa em casa.

Todos à Campanha de Alfabetização

Segundo os coordenadores da Escola Popular este chamado segue porque o trabalho continua. A Campanha de Alfabetização será ampliada para outras áreas, além de ser preciso também arrecadar recursos para acabar a construção do barracão do Raio do Sol, para comprar um motor estacionário para organizar atividades culturais, como sessões de cinema e noites dançantes. Uma grande propaganda da Campanha de Alfabetização precisa ser feita para animar os camponeses analfabetos que ainda não estão estudando.

Os camponeses precisam elevar seus conhecimentos, para vencerem dificuldades do dia a dia, como pegar um ônibus certo, saber qual o remédio dar para o filho, não depender de outra pessoa para ler ou escrever um bilhete. E para fazermos avançar a luta. Eles têm que ler e entender os panfletos e jornais da luta, as ordens judiciais e notícias mentirosas da imprensa a serviço do latifúndio.

A campanha de alfabetização estimula todos camponeses a participarem ativamente da Revolução Agrária cada vez com mais consciência de todas suas tarefas. É preciso avançar a luta por destruir todo o latifúndio do Brasil e com ele o analfabetismo, a fome, a injustiça e a violência contra os pobres. Para tomar parte da construção de um novo país, onde seja o povo que realmente governe, onde todos os camponeses tenham terra para trabalhar e para ensinar seus filhos desde cedo a trabalhar, para ter uma vida simples, mas com fartura.

Com a palavra, os camponeses

“Eu não sabia andar de bicicleta. Já estava com meus 50 anos. Numa noite eu sonhei, pensei: se os outros podem aprender eu também posso. Caí, machuquei, mas hoje eu ando e carrego qualquer um. Com a leitura e escrita penso que é a mesma coisa, não tem idade para começar. Sinto inveja quando vejo uma pessoa lendo um papel. O que me faz mais falta é acompanhar o livro de cantos na igreja.”

“Eu com 12 anos tinha vergonha de estudar com crianças menores. A escola ficava a 10 Km da minha casa, e ainda tinha uma serra. Depois de adulta tentei estudar, mas tive que colocar o serviço em 1º lugar. Daí coloquei na cabeça que estudar não era pra mim. Quando vou na cidade quero ler o nome de uma loja, fazer compra, muitas vezes somos passados pra trás por que temos dificuldade em fazer conta.”

“Quando criança eu não tive oportunidade. Eu chorava pra ir pra escola. Esta oportunidade de criança surgiu agora. Vou fazer de tudo para esta escola começar e continuar.”

“Passava de frente à escola todo dia para levar almoço e merenda pro meu pai na roça e não tive oportunidade de estudar. Eu e meu irmão éramos os mais velhos e fomos o esteio da roça, sustentávamos os mais novos que puderam estudar. Depois aprendi a assinar meu nome e fazer umas continhas porque paguei uma professora. Depois estudei no Mobral, mas trabalhávamos das 6 da manhã às 6 da tarde, meu irmão também ia e de tão cansado ele chegava a dormir na aula. Não saber ler me dá um trabalho para pegar um ônibus, senha de banco.”

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