1

Ato público contra a criminalização da luta pela terra

No dia 04 de abril de 2008, ocorreu um Ato Público no auditório da UNIR (Universidade Federal de Rondônia) organizado pelo CEBRASPO – Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e DCE – Diretório Central dos Estudantes. O ato contou com o apoio de sindicalistas e organizações classistas, camponeses, professores, estudantes, intelectuais e jornalistas honestos. Como resultado do ato aprovou-se uma carta aberta repudiando a ação da imprensa a serviço do latifúndio na tentativa de criminalizar o movimento camponês. Segue abaixo a íntegra dessa carta aberta:

Ao povo de Rondônia
Aos camponeses, trabalhadores, intelectuais, democratas e honestos de todo o Brasil.

No dia 26 de março de 2008, foram às bancas a Edição 2003, ano 31 da revista Isto É. A capa estampava a notícia de que “O Brasil tem Guerrilha”, acusando a Liga dos Camponeses Pobres de ser um “suposto braço armado das FARC” em nosso país. Mais do que um sensacionalismo barato, Isto É passa a criminalizar a justa luta pela terra, na tentativa de descaracterizar uma legítima organização camponesa de Rondônia, acreditando que com a desinformação da opinião pública poderia insuflar uma ação repressiva do Estado.

A publicação difamatória da revista Isto É, foi amplamente reproduzida por setores da imprensa do Estado de Rondônia, como uma única orquestração de ódio contra os camponeses pobres, agora apresentados como guerrilheiros, bandoleiros, bandidos e terroristas, que apresenta um traço fascista dessas “matérias jornalísticas”, sob a máxima nazista difundida por Goebbels, de que uma mentira contada várias vezes se torna uma verdade.

O ódio de classe é estampado em frases do tipo: “trupe maltrapilha, encapuzada e arredia” e na própria vinculação de ativistas da Liga dos Camponeses Pobres com a morte de camponeses na região. A prova mais cabal da tentativa de criminalizar os camponeses é que a revista Isto É tentar associar os camponeses Wenderson Francisco dos Santos, o Ruço e Caco, de terem envolvimento na morte de um camponês na região de Jacinópolis. Ruço e Caco, foram injustamente acusados, há anos atrás, pela morte de um pistoleiro do latifundiário e grileiro Galo Velho, que é um dos maiores do ramo da “grilagem” no país, reconhecido no Livro Negro da Grilagem de Terras do Governo Federal.

Há um ano atrás, o povo de Jarú, julgou que Ruço era inocente de todas as acusações absurdas do latifúndio, coroando uma campanha nacional e internacional que denunciava a sua prisão sob tortura e as infrutíferas tentativas de matá-lo na prisão, onde permaneceu por mais de 4 anos. O povo soberanamente decidiu, mas o latifúndio continua a insistir em criminalizá-lo por ele ser “membro da Liga dos Camponeses Pobres”. Caco, após permanecer por três meses preso, foi absurdamente condenado, junto com o Dr. Ermógenes Jacinto, advogado, pela LEI DE IMPRENSA! No Entanto a mesma Lei de Imprensa não puniu o jornal folha de Rondônia que após o julgamento que inocentou os camponeses em 4 de abril de 2007 anunciava: “matadores da LCP são absolvidos”.

A matéria de Isto É tem uma qualidade tão grosseira em suas mentiras e intentos difamatórios que chega a acusar, sem qualquer tipo de prova, ativistas da Liga de Camponeses Pobres por diversos crimes. Isso, além de fazer acusações gratuitas, também sem qualquer comprovação, sobre supostos treinamentos feitos pelas FARC na região. Percebendo que as organizações democráticas e de direitos humanos preparavam uma resposta à esses ataques, Isto É mais uma vez ataca a Liga de Camponeses Pobres e passa a caracterizar como “guerrilheiros” o MEPR – Movimento Estudantil Popular Revolucionário e ILPS – Liga Internacional de Luta dos Povos, na qual o CEBRASPO é filiado e o representa enquanto Seção Brasil.

O que se quer justificar é que se existisse guerrilha, justificaria-se ação armada de pistoleiros a mando do latifúndio na região de Jacinópolis, que a cada mês faz inúmeras vítimas. Mas o latifúndio quer mais! Com um discurso de “medo” e por se sentirem “aterrorizados”, diversos latifundiários e seus representantes no parlamento passaram a exigir a ação do Exército para “acabar com os guerrilheiros”. Em outras palavras, segundo o latifúndio, é preciso acabar com todos os camponeses que se lançam na luta pela terra, que buscam o sustento dos seus filhos e que em muitos casos já vieram de outras regiões onde foram expulsos pelo latifúndio.

Já basta! Os inocentes não podem ser acusados de bandidos. Os conflitos agrários só existem pela velha estrutura agrária concentrada nas mãos de poucos enquanto a maioria dos pobres do campo passa fome.

Tomamos a liberdade de nos dirigir aos rondonienses, com humildade, mas reconhecendo que nossas assinaturas nesta carta representam significativa parcela dos democratas brasileiros, no sentido de manifestar apoio e esperança aos camponeses que lutam pela terra ao mesmo tempo em que repudiamos toda a forma de tratar o problema agrário brasileiro como caso de polícia.

As organizações classistas e personalidades presentes neste Ato Público, na Universidade Federal de Rondônia conclamam ao povo de Rondônia e toda a sociedade brasileira a se colocar em luta contra esta tentativa de criminalizar o Movimento Camponês, pois junto com estes está em jogo a criminalização de toda e qualquer organização social que se levante contra as injustiças e desigualdades existentes em nosso país. O povo quer terra! Não repressão!

Porto Velho, 04 abril de 2008.

CEBRASPO / Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos
ILPS / Liga Internacional de Luta dos Povos

SINDSPREV/RO – Sindicato dos Trabalhadores Federais em Saúde, Trabalho e Previdência Social de Rondônia

SINTUNIR – Sindicato dos Técnicos da Universidade Federal de Rondônia

Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Espigão D’Oeste/RO

NAP – Núcleo dos Advogados do Povo

Comitê Popular de Lutas – Porto Velho/RO

Comitê em Defesa da Revolução Agrária – Porto Velho/RO

Prof. Ms. Nelbi Alves da Cruz – Coordenador do PRONERA – Universidade Federal de Rondônia

Prof. Dr. Nilson Santos – Diretor do Núcleo de Educação – Universidade Federal de Rondônia

Prof. Dr. Ari Miguel Teixeira Ott – Depto de Filosofia e Sociologia – Universidade Federal de Rondônia

Profª Ms. Marilsa Miranda de Souza – Campus de Rolim de Moura – Universidade Federal de Rondônia

Prof. Luis Luíz Fernando Novoa Garzón – Fórum Independente Popular do Madeira

Diretório Central dos Estudantes – Universidade Federal de Rondônia – DCE/UNIR

Movimento Estudantil Popular Revolucionário – MEPR
Centro Acadêmico de Ciências Sociais – Universidade Federal de Rondônia

Centro Acadêmico de Pedagogia – Universidade Federal de Rondônia

Centro Acadêmico de Psicologia – Universidade Federal de Rondônia

Centro Acadêmico de Informática – Universidade Federal de Rondônia

Centro Acadêmico de Biologia – Universidade Federal de Rondônia

Centro Acadêmico de Geografia – Universidade Federal de Rondônia

Centro Acadêmico de Medicina – Universidade Federal de Rondônia

Centro Acadêmico de Química – Universidade Federal de Rondônia

Movimento Feminino Popular – MFP

Considerando o conteúdo dos fatos acima, os signatários vêm manifestar sua solidariedade ao movimento camponês e repudiar as matérias caluniosas da revista Isto É e outros seguimentos da imprensa rondoniense.