Carta ao companheiro Alípio de Freitas

 

Belo Horizonte, 22 de dezembro de 2016

Carta ao companheiro Alípio de Freitas

“Lutar, fracassar, voltar a lutar, fracassar outra vez, lutar de novo (…) até a sua vitória – eis a lógica do povo …”

Presidente Mao Tsetung, “Abandonai as ilusões e preparai-vos para a luta” (14 de agosto de 1949), Obras Escolhidas, Tomo IV.

Querido companheiro Alípio de Freitas,

Quando o conhecemos pessoalmente, e você aceitou o nosso convite para participar em Goiânia, em abril de 2010, da Homenagem às Lideranças Históricas do Movimento Camponês, em uma reunião ampliada da Comissão Nacional das Ligas de Camponeses Pobres, certamente não compreendíamos todo o significado daquele encontro, o que hoje para nós está muito claro.

Para nós, o encontro com você significou receber a heroica bandeira da luta das massas camponesas brasileiras que tremulou em Canudos, Caldeirão e Pau de Colher, Contestado, Trombas e Formoso, Porecatu, e tantas outras lutas camponesas massacradas por brutais repressões e posteriores traições (quando ou se as renegavam ou se as retiravam de seu caráter histórico e as classificavam como movimentos particulares ou localizados), pois que esta bandeira, que erguida pelas Ligas Camponesas assombrou latifundiários, reacionários e o imperialismo, e mobilizou e organizou milhões de camponeses brasileiros, estava em suas mãos.

E hoje nós temos certeza que a responsabilidade agora é nossa. Todas as ilusões de que seria possível acabar com o latifúndio no Brasil sem por abaixo o Estado burguês-latifundiário serviçal do imperialismo, ilusões propagandeadas e praticadas por toda sorte de oportunistas e ingênuos em “governos” de conciliação de classes, foram por água abaixo com a colossal crise do capitalismo burocrático, manifestação em nosso país da crise geral do imperialismo. E enquanto se afundam no mar de lama da crise política, econômica, social e moral todos os grandes burgueses, latifundiários e oportunistas, todo o seu sistema de exploração e opressão que tem no latifúndio um de seus pilares principais, a luta camponesa assume a condição de protagonista da luta de todo o povo. E brilha intensamente a luz dos revolucionários que seguraram esta bandeira e não a renegaram.

Vivemos dias tormentosos. Lutas intensas, perdemos companheiros assassinados, mas o sangue destes companheiros segue regando a luta das massas, que avançam em sua compreensão, organização e decisão de conquistar todos os seus direitos e aspirações.

E ao nos somarmos a todos os revolucionários e organizações para as comemorações de seus 88 anos, concluímos que não poderíamos resgatar a sua trajetória de luta e honradez com palavras tão bem como outros o farão, porque a nossa condição, a responsabilidade que você nos passou, é lutar, levar a frente a bandeira da luta das massas camponesas brasileiras. Por tudo isso, gostaríamos que você aceitasse, ao completar seus 88 anos, a decisão que as coordenações das Ligas de Camponeses Pobres de todo o Brasil tomaram, de que você seja o Presidente de Honra do nosso movimento. Temos a certeza de que esta decisão encherá de júbilo e confiança as massas camponesas de nosso país, e despertarão o ódio da reação e do imperialismo.

Viva a Revolução Agrária!

Terra para quem nela vive e trabalha!

Conquistar a terra! Destruir o latifúndio!

Viva o Internacionalismo Proletário!

Viva o companheiro Alípio de Freitas!

Comissão Nacional das Ligas de Camponesas Pobres 


Caríssima Guadalupe,

A Comissão Nacional das Ligas de Camponeses Pobres do Brasil, neste momento em que o nosso Presidente de Honra Alípio Cristiano de Freitas nos deixa, vem reverenciar o seu esforço em lutar pela vida do companheiro. Resistir é preciso! E você o fez tanto e tão intensamente, que nós consideramos que o seu esforço em lutar não só pela vida, mas também pelo significado da vida do companheiro Alípio de Freitas, foram fundamentais nestes momentos tão difíceis para o povo brasileiro, em que os vermes são reverenciados e os nossos verdadeiros heróis esquecidos. Continue conosco, Guadalupe. Nós vamos honrar sempre o nosso Presidente, levantar seu nome, realizar o sonho pelo qual ele tanto lutou. Muito obrigado, Guadalupe! Parabéns, Guadalupe! Fique com o conforto que só os que resistem, os que fazem o possível e o impossível podem ter.

Companheiro Alípio de Freitas: presente na luta!

Comissão Nacional das Ligas de Camponeses Pobres

Junho de 2017

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