Em Rondônia, quem são os terroristas?

Através da imprensa porta-voz do latifúndio, e de politiqueiros (deputados, senadores, etc.) em vários níveis de Rondônia e Acre, tem sido incrementado ataques, difamações e criminalização da LCP – Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia e Amazônia Ocidental. Isso porque imputam a LCP a autoria de um ataque ao latifúndio Santa Carmem ocorrido dia 21 de abril na região de Ponta do Abunã, próximo da BR-364 no rumo da divisa entre os estados de Rondônia e Acre. Em tal episódio foi noticiado agressão a funcionários e destruição de instalações desse latifúndio. E pra não perder a viagem, aproveitam para repisar as mortes de policiais ocorridas no ano passado em região próxima. Mortes essas que sem apresentar prova alguma colocam na conta da LCP e das famílias da área Tiago dos Santos.

Nos ataques que fazem a LCP, nos chamam de “bandidos”, “malfeitores”, “terroristas”, “foras da lei”, “milícia fortemente armada”, “organização criminosa”, “crime organizado disfarçado de movimento político”, “anti-democráticos” e outros xingamentos mais. Dizem que nosso objetivo não é o acesso à terra pelo povo, mas o de manipulá-lo ideologicamente como massa de manobra, entre outras mentiras e calúnias.

Repudiamos tais acusações infundadas, caluniosas e todo o berreiro que busca criminalizar a LCP e a luta pela terra. Na verdade toda essa enxurrada de mentiras tem objetivo muito claro, que é engrossar a campanha já em curso de satanização da LCP, para criar opinião pública para criminalizar a luta pela terra, de modo a justificar a perseguição e repressão aos camponeses organizados, para assim facilitar a aplicação de seus sinistros planos.

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No caso da morte dos policiais, salientamos uma vez mais, que a LCP e as famílias da área Tiago dos Santos nada tem a ver com esses episódios. O que ocorreu ali foi uma clara armação executada por bandos armados na intenção de incriminar os camponeses do acampamento Tiago dos Santos e lançar contra eles a sanha sanguinária de policiais matadores e seus chefes, guardiães do latifúndio, e todo aparato do velho Estado. Diferente da estorinha que cacarejam a exaustão, o tenente da reserva Figueiredo, não estava ali numa pescaria inocente. A verdade é que tinha histórico de prestar serviço de pistolagem para fazendeiros da região, e estava ali trabalhando para o latifundiário ladrão de terra da União, Sebastião Martins, o Galo Velho. A verdade é que foi emboscado pelos guaxebas do latifundiário, seus colegas de serviço. Na sequência da morte do tenente, os policiais que vieram, já durante a noite, a revelia e sem ordem superior para tal ação, vieram sedentos por vingança, para derramar sangue dos camponeses da área Tiago dos Santos. No meio do caminho toparam com o mesmo bando de pistoleiros do Galo Velho, trocaram tiros e se deram mal mais uma vez. Esses foram os fatos que foram manipulados para sustentar a bem sucedida armação do latifúndio, voltando a sanha do velho Estado contra os camponeses.

Mesmo depois de toda repercussão do caso, da grande operação da polícia na região, com dezenas de prisões, interrogatórios (que incluíram torturas para arrancar informações), no que deu tudo isso? Todos que foram presos (e não foram poucos) durante as investigações da polícia tiveram que ser soltos, simplesmente porque não tem provas que sustentem a versão mentirosa e oficial. Omitem os fatos, porque se revelados desmoralizam esse velho Estado, ao confirmar que o tenente era, na verdade, um bandido, pistoleiro a soldo do latifúndio e morto por eles próprios. Os fatos confirmam que tal situação, de policiais comandarem e participarem de bandos armados a serviço do latifúndio não é exceção, é a regra em Rondônia. Os fatos também confirmam que toda a operação policial e os vultuosos recursos públicos (dinheiro dos nossos impostos) gastos na repressão aos camponeses da área Tiago dos Santos, foram para servir um latifundiário ladrão de terras públicas como é o caso de Sebastião Martins, o “Galo Velho”, notório criminoso condenado pelo judiciário e preso por falsificação de documentos de propriedade de terras e compra de sentença que dava por produtiva uma fazenda que tinha apenas mata e mato.

Mas a verdade dos fatos não interessa aos latifundiários ladrões de terra da União, aos seus porta-vozes, e ao seu velho Estado, pois é mais conveniente e serve melhor aos seus interesses seguir o berreiro condenando e criminalizando a luta pela terra e a organização dos camponeses.

Mas os mesmos que berram contra os camponeses, que clamam por mais repressão, prisões, e que dizem serem os maiores defensores da lei, esses mesmos não dizem uma palavra sequer sobre as ilegalidades cometidas pelo velho Estado, nenhuma palavra sequer sobre os odiosos crimes do latifúndio que se repetem impunemente há séculos.

Esses senhores não disseram uma palavra sequer sobre o assassinato do camponês Jerlei da área Tiago dos Santos há duas semanas atrás. Ao que tudo indica Jerlei foi assassinado covardemente por pistoleiros e policiais como vingança, simplesmente porque era um camponês de uma área onde os camponeses em meio de todas as dificuldades, seguiram resistindo, retomaram as terras, e seguem lutando pela sua posse.

Para esses senhores, que se dizem os maiores defensores da propriedade privada, não se comovem com um camponês assassinado, com camponeses sendo ameaçados de morte, com camponeses sendo perseguidos, torturados e presos ilegalmente. A vida de um camponês não tem nenhum valor para esses senhores. E menos ainda a pequena propriedade. Quando se arvoram a defender a propriedade privada, como se esse fosse o único direito, se referem na verdade a grande propriedade, pois a propriedade dos pequenos e médios não tem nenhum respeito deles. Quando os próprios agentes do velho Estado, invadem ou causam prejuízo a propriedade de um camponês, quando passam com trator por cima de barracos com todos os pertences dentro, como criminosamente fizeram no despejo a área Tiago dos Santos, e é prática recorrente dessas operações policiais contra o povo pobre, isso não comove esses senhores que se dizem defensores da propriedade privada.

E uma vez mais, é preciso dizer claramente, a tal propriedade que dizem defender, a propriedade de latifúndios, não tem nenhuma legitimidade. Os latifundiários são ladrões de terra, alardeiam o direito a propriedade, mas omitem que o que hoje se dizem donos, obtiveram ao custo do roubo e sangue, da usurpação de terras alheias, ou seja, são verdadeiros ladrões que não respeitam a propriedade alheia. Essa conversa de que latifundiários conquistaram suas grandes extensões de terra com trabalho, é estória pra boi dormir. As terras do latifúndio, se puxadas a sua origem, são todas terras roubadas da União, roubadas de territórios indígenas, roubadas de pequenos e médios proprietários, muitas vezes usados como bucha pra amansar a terra, enfrentando malária (e outras pestes) e feras, para depois serem expulsos a bala. Isso ocorreu largamente na história de Rondônia. Então não venham com esse discurso de defesa de propriedade para atacar a LCP. A luta por terra pra quem nela trabalha, essa sim é uma luta justa e profundamente legítima e que visa democratizar a propriedade da terra.

Diferente do que querem fazer crer, o latifúndio não contribui em nada para o desenvolvimento do país. Ao contrário, é a existência do latifúndio, a principal causa da miséria do povo e das mazelas que atrasam e impedem o progresso da nossa nação.

Os latifundiários, que são uma ínfima minoria da população, mas detêm mais da metade das terras agricultáveis, são os verdadeiros parasitas, são ladrões de terras públicas da União, assassinos de camponeses, indígenas e quilombolas, não pagam impostos, empregam uma minoria de pessoas (com exceção do setor de frigorífico) e são os únicos que não contribuem para a previdência social, contam com fartos financiamentos públicos e sucessivos perdões de dívidas, além de outros indecentes privilégios. Ao contrário de trazer desenvolvimento, onde existe latifúndio, que não compra um prego sequer no comércio local, reina o atraso, os ricos ficam cada vez mais ricos e os pobres ainda mais pobres. Os latifundiários ladrões de terras da União querem a todo custo manter seus privilégios as custas da miséria, exploração e sangue dos pobres. É por isso que se lançam com tanto ódio contra a justa luta camponesa, essa sim, luta que pode resolver problemas fundamentais que se arrastam há séculos sem solução no nosso país. Onde avança a Revolução Agrária, com a destruição do latifúndio e conquista da terra cortando e distribuindo parcelas aos camponeses pobres sem terra ou com pouca terra, a situação se desenvolve e muda a favor dos camponeses, pequenos comerciantes, e demais trabalhadores. Milhares de famílias com seu pedaço de terra reduz o desemprego, aumenta a produção de alimentos, fortalece o mercado local, e leva progresso pra cidade, principalmente das pequenas.

A verdade é que esse governo de latifundiários, com seu gerente de turno, o coronel pm Marcos Rocha, marionete de latifundiários, é incapaz de qualquer política que não seja a sanguinária como a do “Massacre de Corumbiara de 1995” contra o povo pobre em luta. Pra essa gente cometer matanças de pobres, não é um problema em si, mas apenas uma inconveniência política no atual momento de grave crise que passa o país. Nesse sentido é ilustrativo declarações feitas por um senador de Rondônia, que como “legítimo” representante dos interesses latifundiários na pocilga (nos desculpem os porcos) do congresso nacional. Além de destilar ódio e fazer coro com todo o berreiro contra a luta camponesa em Rondônia, tal senador exige medidas enérgicas do velho Estado e alerta para o “risco” de ocorrer “chacinas” e muitas mortes na região, pois se o velho Estado não agir, seria legítimo o latifúndio se organizar ainda mais, para levar adiante a política de massacre. E diz que esse “não é cenário ideal”, mas admite e defende esse caminho como possibilidade.

Mas se enganam se acham que com repressão, ataques e campanhas de terror vão parar a luta pela terra. Em 1995, mesmo com todo terror que aplicaram visando parar a luta pela terra, teve efeito contrário do que esperava o latifúndio. Enquanto a maioria das terras estiverem concentradas nas mãos de um punhado de parasitas, os latifundiários ladrões de terra da União, e de outro lado seguir existindo milhões de famílias sem acesso à terra para plantar e viver com dignidade, a luta pela terra seguirá existindo e nada nem ninguém pode pará-la. Se nos atacam com tanta força é justamente porque estamos no caminho certo, porque representamos uma ameaça aos indecentes privilégios dos poderosos e endinheirados que se nutrem deste putrefato sistema de exploração e opressão secular de nosso país.

Os terroristas em Rondônia são os latifundiários ladrões de terra da União, com seus bandos armados, seu velho Estado, e demais serviçais e porta-vozes.

Urge aos verdadeiros democratas e honestos somar apoio a luta dos camponeses pobres de Rondônia, a LCP, e a repudiar a atual campanha reacionária de criminalização da luta pela terra.

Abaixo a criminalização da luta pela terra! Fim das perseguições e prisões!

Conquistar a terra, destruir o latifúndio!

Terra para quem nela trabalha!

Viva a Revolução Agrária, morte ao latifúndio!

 Comissão Nacional das Ligas de Camponeses Pobres

LCP – Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia e Amazônia Ocidental

28 de abril de 2021

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