Extrema-direita que organizou ‘dia do fogo’ ameaça jornalista de morte

Após denunciar o “Dia do Fogo” e a responsabilidade do latifúndio nas queimadas que ocorrem na região Amazônica, o jornalista Adécio Piran está sofrendo ameaças de morte. Ele denunciou os crimes do latifúndio no jornal local de sua cidade, Folha do Progresso, do qual é editor, no município de Novo Progresso, Pará. A Polícia Civil do Pará identificou o responsável pelas ameaças como sendo Donizete Severino Duarte, e constatou que o mesmo também lidera um grupo de latifundiários bolsonaristas da região organizados num movimento extremo-direitista autodenominado Direita Unida Renovada.

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Além de ameaças perpetradas nas redes sociais, o jornalista também teve seu nome e sua imagem difamados em panfletos impressos que foram distribuídos na região pelo mesmo grupo, em que ele aparecia em uma montagem vestindo um chapéu e óculos pretos com cifras de dinheiro, e, no fundo, uma imagem de um incêndio com os dizeres: “Mentiroso, estelionatário e trambiqueiro”.  

Adécio contou, em entrevista ao portal Amazônia Real, que trabalha como jornalista em Novo Progresso há 20 anos, e que fazer denúncias como essa sempre foi difícil. “É ameaça geral aqui”, disse ele. Além do grupo Direita Unida Renovada, também relatou que está sendo ameaçado virtualmente por um outro, chamado “Caneta Desesquerdizadora”. O jornalista recentemente registrou um Boletim de Ocorrência (BO) depois que os grandes fazendeiros da região passaram a ameaçar e coagir, também, os patrocinadores do jornal, que pagam por anúncios. 

O ‘Dia do Fogo’ no Pará

O Pará foi o estado que mais concentrou focos de incêndios, planejados para acontecer nos dias 10 e 11 de agosto e que acabaram se alastrando amplamente pelo território brasileiro, por semanas. De todo o estado, o município de Novo Progresso foi o segundo mais atingido pelas queimadas, depois de Altamira, totalizando 194 focos no dia 10 e 237, no dia seguinte. 

Segundo o monopólio de imprensa Globo Rural, só em Altamira e Novo Progresso mais de 70 pessoas, entre latifundiários, grileiros e comerciantes, combinaram a organização das queimadas por WhatsApp em um grupo chamado “Sertão”, que também dá nome ao estabelecimento comercial de um tal Ricardo De Nadai, comerciante da região. 

Os membros do grupo arranjaram a contratação de motoqueiros para circular pelas margens da BR-163 e atear fogo no capim seco do acostamento da importante via, que conecta o sudoeste do Pará ao Mato Grosso e a portos no rio Tapajós e é conhecida, hoje, como o “corredor da soja”. 

O grupo pretendia incendiar áreas de terra devoluta, que pertencem ao velho Estado, e da Floresta Nacional do Jamanxim, uma das principais reservas do estado. Além disso, também tinham a intenção de fazer o fogo alcançar uma área chamada de Terra do Meio, uma localidade da Amazônia onde situam-se assentamentos e ocupações de camponeses em luta pela terra que sofrem frequentes ataques do latifúndio.

Para se realizar queimadas desse porte é necessário, antes, desmatar as áreas de mata, ao que o grupo precisou contratar operadores de motosserra para realizar o serviço, o que explicita a premeditação organizada da operação. Segundo o monopólio de imprensa citado, faltou mão de obra, e foi preciso trazer gente de outras regiões da Amazônia e até da região Nordeste para trabalharem com as motosserras. 

Provocação bolsonarista

A revelação das ameaças ao jornalista por grupos de extrema-direita confirmam a análise de AND, estampada na capa da edição 226 e na matéria Latifúndio bolsonarista incendeia Amazônia e imperialismo se intromete, segundo a qual as queimadas foram ações, no fundamental, orquestradas como provocação da extrema-direita.

Tal provocação tinha como consequência última e calculada o estabelecimento do decreto de “Garantia da Lei e da Ordem”, que permite o emprego das Forças Armadas e outros mecanismos de repressão federais na Amazônia Legal, área conflagrada, onde a luta pela terra se desenvolve enfrentando a guerra civil desatada pelos latifundiários. Dessa forma, os camponeses pobres em luta pela terra são coagidos em sua labuta e poderão sofrer novas fustigações. A extrema-direita, por seu turno, avança seu plano de desatar repressão feroz à luta pela terra e elevar a militarização do campo.

Por Júlia Izecksohn

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