Governo declara guerra aos camponeses e envia PM para tentativa de despejo contra Acampamento Manoel Ribeiro

Após dias seguidos de fustigamentos cometidos pela polícia militar contra os camponeses do Acampamento Manoel Ribeiro e das áreas revolucionárias vizinhas, o governador reacionário do estado de Rondônia, Marcos Rocha, e o Secretário de Segurança carniceiro de Santa Elina, José Hélio Cysneiros Pachá, em conluio com o latifúndio, enviaram uma grande operação policial na tentativa de fazer o criminoso despejo dos camponeses que lutam pelas últimas terras que restaram do latifúndio Santa Elina.

Frente à covarde repressão, os trabalhadores não recuaram e, por diversas vezes, obrigaram as tropas da reação a se retirarem do local.

Vitoriosos, camponeses resistem contra despejo

O ataque direto contra o acampamento Manoel Ribeiro ganhou maiores proporções a partir do dia 30 de março, quando dezenas de policiais militares fortemente armados, ameaçaram invadir a terra tomada pelas famílias trabalhadoras.

Vindos de Chupinguaia, município vizinho à Corumbiara, localizado há 675 km da capital rondoniense, os agentes da repressão chegaram em 4 viaturas durante a tarde e atacaram os camponeses acampados que, cantando palavras de ordem, se defenderam lançando fogos de artifício e pedras.

Com organização, as famílias ergueram bandeiras vermelhas, além de enxadas, facões e foices – seus instrumentos de trabalho – e se defenderam com escudos de madeira em punho, o que obrigou a tropa policial a recuar rapidamente.

Na fuga, os policiais deixaram para trás um cartucho de pistola carregado.

Após esta investida, chegaram mais reforços e ao todo 9 viaturas participaram do ataque. Inclusive um helicóptero foi usado.

Barricadas em chamas foram erguidas e arames usados pelos camponeses para bloquear a estrada de acesso ao acampamento como forma de dificultar os covardes ataques das forças policiais.

Em meio aos ataques, 2 camponeses foram arbitrariamente presos e, até o fechamento desta matéria, a localização de um deles era incerta e a situação de saúde dos trabalhadores desconhecida.

Durante o dia 31 de março, após sobrevoar o Acampamento Manoel Ribeiro e seu entorno com um helicóptero do Núcleo de Operações Aéreas (NOA) e outro dos bombeiros, um operativo com dezenas de viaturas e a tropa de choque da polícia militar fez mais uma vã tentativa de despejar o acampamento.

Policiais dispararam muitas balas de borracha e arremessaram bombas de gás lacrimogênio contra pais de família, mulheres e crianças, mas novamente foram novamente respondidos com combatividade e obrigados a recuar.

Uma grande quantidade de viaturas também patrulhou ostensivamente a extensão da estrada MC 01 que liga a cidade de Chupinguaia à área rural do município onde se localiza o latifúndio Nossa Senhora Aparecida, como se os camponeses da região fossem bandidos.

Segundo denúncias de moradores, um operativo policial ainda maior estaria se reunindo e preparando uma nova investida de agressão contra os camponeses programada para o dia de fechamento desta matéria (01/04). Inclusive colchões escolares teriam sido usados pelos PMs para pernoite no ginásio esportivo da cidade.

Governador reacionário presta serviço a latifundiários ladrões de terra contratantes de pistoleiros

Toda esta milionária mobilização militar em plena pandemia para desalojar homens, mulheres e crianças que lutam por um pedaço de chão para viver e trabalhar ocorre após o apelo feito pela criminosa associação de latifundiários do Cone Sul de Rondônia com objetivo de defender um de seus comparsas, o latifundiário que se diz dono das terras da Fazenda Nossa Senhora Aparecida.

Antônio Borges Afonso, conhecido pela alcunha de “Toninho Miséria” , teve sua organização criminosa desarticulada com a prisão do sargento da polícia militar Emerson Pereira Arruda e mais 5 comparsas, no dia 22 de março.

Preocupados com que seus lucrativos crimes de roubos de terra e exploração do trabalho servil camponês – assegurados pelo uso de grupos paramilitares formados por policiais guaxebas* – fossem prejudicados, os latifundiários da região clamaram ao reacionário Marcos Rocha, legítimo representante do interesse desses bandidos.

Atendendo prontamente ao chamado, o governador rapidamente realizou reuniões emergenciais nas quais chegou a bradar que quer ver “esses caras presos”, referindo-se às famílias trabalhadoras, e exaltou também a importância da atuação da “Secretaria de Estado da Segurança, Defesa e Cidadania (Sesdec)” a fim de fazer as vontades destes ricaços ladrões de terra.

Importante destacar que a Sesdec tem atualmente como seu titular ninguém menos que o carniceiro José Hélio Cysneiros Pachá, militar que estava à frente do Comando de Operações Especiais em 1995 quando sua corporação cometeu os bárbaros crimes que chocaram o mundo no que ficou conhecido como “Massacre de Corumbiara”.

Daí podemos compreender melhor de que se trata todo o alvoroço do monopólio de imprensa que repercute sob eufemismos de “resolver conflitos agrários”, “pacificar o campo” e similares. Trata-se do covarde ataque contra famílias trabalhadoras em plena pandemia.

Inclusive as prisões desta quadrilha de policiais militares que atuavam como pistoleiros da Fazenda Nossa Senhora não geraram tanta comoção, nem aos órgãos de governo, responsáveis diretos por esses crimes, nem nos monopólios de imprensa, que se dizem imparciais, mas tão afeitos a sensacionalismos quando se trata de criminalizar o povo.

Antônio Marcos Pires, pistoleiro contratado pelo sargento Emerson Pereira de Arruda (3º Batalhão de Vilhena) que aparece à direita no curral do latifúndio Nossa Senhora Aparecida ostentando armas de grosso calibre

Entenda mais sobre as prisões dos policiais guaxebas a serviço do latifúndio Nossa Senhora Aparecida

As numerosas denúncias da atuação criminosa de pistoleiros junto de policiais guaxebas feitas pelas famílias do acampamento Manoel Ribeiro e camponeses das áreas vizinhas ficaram comprovadas no último 22 de março quando uma busca e apreensão realizadas a pedido do Ministério Público nas dependências do latifúndio e nos endereços dos bandidos resultou na prisão de 4 policiais e 2 funcionários do latifúndio Nossa Senhora Aparecida.

Na operação foram presos 4 policiais militares guaxebas: o sargento Emerson Pereira de Arruda (3º Batalhão de Vilhena), os cabos Wagner Ferreira de Souza, Helson dos Santos Souza e o SD Jander Nascimento de Oliveira. Além de 2 empregados do latifúndio, Eduardo do Carmo Martim e Antònio Marcos Pires, um dos quais era gerente da Fazenda Nossa Senhora Aparecida.

O que já era de conhecimento público e fartamente documentado em registros feitos pelos camponeses, ganhou provas incontestáveis: diversas armas de fogo não registradas (dentre elas espingardas calibres 12, 22 e uma carabina), 60 munições de diversos calibres, 10 aparelhos celulares e pelo menos 2 carros foram apreendidos com os policiais guaxebas e empregados do latifúndio.

Essa é apenas parte do arsenal militar que era usado pelos policiais contra as famílias acampadas no Manoel Ribeiro, uma vez que denúncias de camponeses vizinhos dão conta de que, avisados antecipadamente da operação de busca e apreensão, os pistoleiros instalados no retiro e no curral – estruturas usadas como esconderijos e pontos de ataque contra as famílias acampadas – retiraram e esconderam armas, além de queimar capsulas deflagradas, roupas militares e outras provas de sua atuação belicosa contra as famílias acampadas.

A queima desses materiais pôde ser vista de longe e, mais tarde, camponeses puderam comprovar que em meio ao material queimado haviam dezenas de cápsulas de grosso calibre.

Camponês tem a cerca de sua propriedade destruída pela polícia

Durante a tentativa frustrada de invasão do Acampamento Manoel Ribeiro no dia 30 de março, os policiais invadiram a propriedade de um camponês vizinho ao latifúndio Nossa Senhora Aparecida e cortaram a cerca do lote deste trabalhador que tem grande parte de sua renda obtida da pecuária para extração de leite.

Ora, quando se trata de destruir a cerca de um pequeno proprietário que trabalha duro para juntar seus parcos recursos e garantir seu sutento, os PMs agem sem o menor pudor. Mas, quando um grande latifundiário ladrão de terras tem avarias em suas propriedades, o latifúndio e seus capachos nos governos e polícias gritam em defesa da propriedade. São dois pesos e duas medidas!

Trabalhadores são constrangidos e têm celulares revistados em blitze arbitrárias

Vários camponeses denunciam que nas numerosas blitze realizadas nos últimos dias a polícia quer saber se os trabalhadores estão no Acampamento Manoel Ribeiro e quais são as lideranças, fazem revistas minuciosas – algumas pessoas foram submetidas a interrogatórios de até 30 minutos e tiveram a espuma do capacete retirada. Policiais têm constrangido e coagido os trabalhadores a revelarem suas senhas e desbloquearem seus aparelhos, resultando na violação de privacidade.

A perseguição e criminalização contra as famílias acampadas só têm gerado mais revolta e indignação entre os camponeses moradores da região.

Além de restringir a circulação dos moradores da região, denúncias revelam que os camponeses também tem seus trabalhos prejudicados, pois muitos deles, por falta de recursos, não têm a documentação de seus veículos em dia; também utilizam comumente armas para caça rudimentares como instrumento de trabalho em pequenas caçadas para complementar sua dieta proteica e como proteção individual do ataque de animais nas áreas de mata.

Repressão paralisa campanha de vacinação e funcionamento de escola

Como se não bastasse tamanho absurdo, a repressão contra as famílias acampadas tem provocado a paralisação dos já precários serviços públicos prestados aos camponeses da área rural de Corumbiara e Chupinguaia.

Em meio a maior alta já registrada da contaminação e número de mortos causados pelo Coronavírus, as ações de repressão do governo Marcos Rocha contra o Acampamento Manoel Ribeiro resultaram na suspensão da campanha de vacinação contra a Covid-19 na localidade rural, conforme informou funcionários da secretaria de saúde de Chupinguaia.

Também a escola localizada na Área Zé Bentão teve suas atividades comprometidas pela repressão policial. Com isso, o atendimento aos pais de alunos referente às matrículas e a distribuição de materiais escolares para as crianças da localidade não tem sido realizado nesta semana.

Nota:

*Guaxebas: termo popular usado em Rondônia e região para designar pistoleiros, homens armados contratados pelos latifundiários para fazer a vigilância das terras roubadas e cometer crimes, principalmente contra camponeses.

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