Justiça do latifúndio quer legalizar grilagem expulsando 130 camponeses de suas terras

Camponeses exibem certificados de suas terras durante celebração do Corte Popular na área Canaã e Raio do Sol O despejo da área Raio do Sol não é um fato isolado em Rondônia. Nos últimos dias, camponeses de Vilhena, Porto Velho e Rio Alto (Buritis) também foram despejados e outras áreas estão ameaçadas, a maior delas, Rio Pardo. É uma ofensiva do latifúndio incentivado pelo projeto de regularização fundiária do governo Lula que na prática está expulsando os camponeses pobres e legalizando as terras griladas pelos latifundiários. Ao mesmo tempo em que preparam uma nova campanha de ataques com bandos armados e a criminalização da justa luta pela terra.

Numa época de grave crise econômica onde o desemprego assola as principais cidades de Rondônia, o juiz de Ariquemes Danilo Augusto Kanthack Paccini assinou mais uma liminar de despejo para a Área Revolucionária Raio do Sol, localizada na linha C-19, travessão 1 da linha 45, município de Ariquemes.

Produção camponesa No final de 2005 nós tomamos as terras, hoje somos 40 famílias, um total de 130 homens, mulheres e crianças que vivem e trabalham nos seus lotes. Só este ano produzimos 2.000 sacos de arroz, 1.200 sacos de milho, 25 hectares plantados de banana e 18 hectares de cana. Também temos ao todo 55 cabeças de gado, todos já cadastrados no Idaron, quase 600 galinhas, mais de 80 porcos, 30 hectares de café, 35 hectares de mandioca, 4 hectares de cacau, além de cultivos diversos, como inhame, abóbora, laranja, limão, manga, abacate, jaca, acerola, siriguela, amora, caju, goiaba, abacaxi, coco, cupuaçu e hortas. Já temos projetos de vender parte de nossa produção para prefeitura usar na merenda escolar.

Já existem 14 casas de madeira e um total de 11 Km de cerca na área. Nós camponeses também já construímos no braço duas pontes e pagamos de nosso bolso 5 mil reais de hora/máquina para abrir a estrada. Para esta empreitada contamos com nossa força e com o apoio de proprietários vizinhos. Dois ônibus escolares entram na nossa área de manhã e de tarde para transportar os alunos pras escolas Mafalda Rodrigues e Arco-íris.

Colheita de amendoim - Raio do Sol A fazendeira Diana Maria das Mércis Galhardi é quem se diz proprietária da área, mas o único documento que ela possui é falso. Ela está dando continuidade aos crimes de seu finado marido, que tirou a madeira e derrubou quase todos os 400 alqueires das terras. Quando chegamos, restavam apenas 9 alqueires de mata. Ele também contratou pistoleiros para nos ameaçar e perseguir.

Apesar disto, a justiça se nega a reconhecer o conflito agrário em nossa terras e ao longo dos anos já autorizou 4 despejos, onde a polícia queimou nossos barracos, nossos pertences e produção e roubou bicicletas e colchões. Em 2007 o advogado da fazendeira, Josué Leite, queimou pessoalmente nossas pilhas de arroz e montes de milho.

Os policiais ameaçaram nos bater e levar homens e mulheres presos para o Urso Branco e as crianças para o Conselho Tutelar, apontaram armas na cabeça dos homens. Tudo isto na frente das crianças, os mais pequenos ficaram vários dias assustados, qualquer barulho pensavam que era polícia e corriam pro mato.

O empresário de Jaru, Lúcio Mosquini, ex-presidente da Coaja – Cooperativa dos Agricultores de Jaru está conluiado com a fazendeira. Ele tenta negociar nossas terras, além de financiar os despejos.

Em maio último, o Incra fez uma vistoria, fez o cadastro das propriedades e o levantamento da produção. Eles afirmam que nossas terras serão regularizadas, mas ficam nos enrolando. Como sempre fizeram.

Camponeses exibem certificados de suas terras durante celebração do Corte Popular na área Canaã e Raio do Sol Se hoje temos produção e casas, é porque não esperamos a reforma agrária falida do governo. Cortamos as terras com nossas próprias mãos e entregamos aos camponeses. Numa celebração junto com a área Canaã, que reuniu mais de 200 pessoas, entregamos aos camponeses certificados de posse da Revolução Agrária.

O despejo da área Raio do Sol não é um fato isolado em Rondônia. Nos últimos dias, camponeses de Vilhena, Porto Velho e Rio Alto (Buritis) também foram despejados e outras áreas estão ameaçadas, a maior delas, Rio Pardo. É uma ofensiva do latifúndio incentivado pelo projeto de regularização fundiária do governo Lula que na prática está expulsando os camponeses pobres e legalizando as terras griladas pelos latifundiários. Ao mesmo tempo em que preparam uma nova campanha de ataques com bandos armados e a criminalização da justa luta pela terra.

Deixamos o seguinte recado para as autoridades e os latifundiários: não somos cachorros que vocês podem pisar e humilhar, somos homens e mulheres camponeses dignos e honrados, sabedores de nossos direitos e da justeza de nossa luta. A terra é para quem nela trabalha e não vamos arredar o pé do que é nosso!

Conclamamos todos os camponeses, trabalhadores da cidade, estudantes, pequenos comerciantes, pessoas e entidades democráticas para denunciar as injustiças que estamos sofrendo e para apoiarem nossa resistência.

O povo quer terra, não repressão!
Tomar todas as terras do latifúndio! Viva a Revolução Agrária!

CDRA – Comitê de Defesa da Revolução Agrária da Área Raio do Sol
LCP – Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia e Amazônia Ocidental

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