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Latifundiários do Vale do Jamari assassinam mais um líder camponês

Bilhete entregue no velório de Ademir de Souza Pereira ameaçando sua família

Bilhete entregue no velório de Ademir de Souza Pereira ameaçando sua famíliaNo dia 06 de julho Ademir de Souza Pereira, um dos líderes dos Acampamentos Terra Nossa 1 e 2, foi covardemente assassinado em Porto Velho. Ele já temia por sua vida, pois recentemente tinha sido seguido duas vezes e conseguiu se livrar de uma emboscada, quando chegava em sua casa. Desde início de 2016, Ademir é o 7º camponês morto pelo latifúndio só nestes acampamentos, localizados em Ariquemes e Cujubim.

Ademir e sua esposa estavam participando de uma reunião no Incra, com mais de 30 camponeses, representantes de diversos acampamentos e áreas de posseiros de todo o estado. Após o almoço ele recebeu um telefonema de uma pessoa que propôs um encontro para tratar de negócios. O ativista foi sozinho para o local marcado – um lava-jato, na zona sul da capital rondoniense, próximo a avenidas bem movimentadas. Testemunhas contaram que por volta das 3 horas da tarde, pelo menos dois homens chegaram num carro Citroën preto, já atirando com uma pistola .40 contra o camponês, que tentou correr, mas caiu alvejado. O assassino, que não estava nem um pouco preocupado em ser identificado, estava de camiseta regata, deixando a mostra várias tatuagens no braço, e com o rosto descoberto, desceu do carro e disparou outras vezes na cabeça do camponês, que morreu no local. Ele tinha 44 anos e deixou esposa, 3 filhos e um enteado.

Como se não bastasse tamanha injustiça, um delegado da polícia civil, levantou que o camponês já tinha sido preso e teve a desfaçatez de enviar a seguinte mensagem pro celular da viúva: “Seu marido era bem vida torta.” E por volta das 23 horas do dia 07, enquanto Ademir estava sendo velado em Ariquemes, um mototaxista chegou e entregou um papel com uma ameaça de morte para sua sua esposa e filhos. Durante toda a noite, várias caminhonetes e carros de latifundiários da região passaram em frente ao velório, intimidando e tentando identificar os presentes.

Ademir de Souza PereiraDesde quando o fascista Ênedy Dias assumiu o comando da PM, em circunstâncias nebulosas, em janeiro de 2016, só tem aumentado o terrorismo de Estado em Rondônia. Latifundiários seguem organizando e financiando bandos armados de pistoleiros, para cometerem toda a sorte de crimes e assassinarem lideranças de acampamentos, tudo com a cobertura e participação ativa de policiais, a conivência da “justiça” e com a cumplicidade dos monopólios de imprensa.

A emboscada e assassinato de Ademir tem o mesmo modus operandi desses bandos armados, reforçados pelos claros indícios do envolvimento de policiais, a certeza de impunidade do assassino, a demora da chegada da polícia no local do crime e a tentativa de descaracterizar o fato como conflito agrário.

Esse assassinato é mais um, entre tantos casos, do conhecido roteiro da morte, onde lideranças camponesas que participam de reuniões com o Incra e Terra Legal, são identificadas por latifundiários, pistoleiros e policiais e assassinados em seguida. É mais um crime da Associação criminosa de latifundiários do Vale do Jamari, em apoio a Paulo Iwakami (conhecido como Paulo Japonês), grileiro que se diz o dono da fazenda Tucumã, localizado na linha C-114, Km 44, no município de Cujubim.

Breve histórico dos Acampamentos Terra Nossa 1 e 2

No meio de 2015, com a informação de que esta fazenda são terras públicas já desapropriadas e indenizadas pela União, cerca de 50 camponeses se organizaram, tomaram a área e criaram o acampamento Terra Nossa. Desde então, as famílias têm resistido bravamente a crimes de todo tipo, cometidos a mando do latifundiário Paulo Iwakami.

No dia 31 de janeiro de 2016, os jovens camponeses Ruan Hildebran Aguiar e Alysson Henrique Lopes foram brutalmente assassinados no acampamento. Um dos corpos foi encontrado queimado e o outro segue desaparecido até hoje. Após protestos de familiares e moradores de Cujubim, a polícia apreendeu na fazenda Tucumã uma caminhonete do latifundiário Paulo Iwakami cheia de armamento de guerra e vários pistoleiros, mas permitiram a fuga do chefe da pistolagem, o 3º sargento PM Moisés Ferreira de Souza. Os pistoleiros foram todos soltos posteriormente. Na época o recém empossado comandante da PM Ênedy Dias parabenizou pessoalmente os policiais responsáveis por esta ação criminosa. Este sargento Moisés é o mesmo que comandou os pistoleiros que assassinaram 9 camponeses, em Colniza, em abril de 2017.

Outros 4 camponeses do Acampamento Tucumã foram assassinados em 2016 e 2017: um ficou desaparecido e seu corpo foi encontrado na mata, esquartejado; Roberto, um dos coordenadores do acampamento, foi assassinado na estrada, saindo do acampamento; outros 2 eram testemunhas de acusação contra o latifundiário Paulo Iwakami, a CPT – Comissão Pastoral da Terra estava tentando incluí-los no programa de proteção à testemunhas.

Policiais militares, inclusive da Força Tática, com viaturas e até helicópteros despejaram violentamente o acampamento 3 vezes, uma delas sem ordem judicial. Queimaram barracos, destruíram e roubaram alimentos das famílias. Prenderam 8 camponeses e agrediram um deles, mesmo já estando rendidos. Eles foram levados pra Delegacia de Ariquemes, onde informaram seus números de telefone; depois que saíram, eles foram seguidos e passaram a receber ameaças telefônicas. Ocorreram outras prisões de acampados.

Após um dos despejos, vizinhos viram uma caminhonete cheia de pistoleiros entrando na fazenda Tucumã; vários policiais foram vistos no local, inclusive transportando estes matadores. Estes bandos dispararam contra o acampamento várias vezes, atacaram camponeses que passavam nas estradas da região, ameaçando, agredindo e roubando.

Camponeses registraram várias denúncias na Delegacia de Ariquemes, em reuniões da Ouvidoria Agrária Nacional, mas os crimes dos latifundiários continuaram.

Em 2017, camponeses tomaram os burareiros 159, 59 e 60, nas divisas entre os municípios de Ariquemes e Cujubim e criaram o acampamento Terra Nossa 2 e logo fizeram o corte popular. As famílias seguem se organizando e decididos a retomar a fazenda Tucumã.

Rebelar-se é justo!

O povo está cada vez mais abandonando as ilusões com esse velho e apodrecido Estado serviçal do latifúndio e do imperialismo! O latifúndio e tudo que o sustenta deve ser destruído! Devemos impulsionar a Revolução Agrária, tomar todas as terras do latifúndio, cortar a terra por conta e distribuir os lotes entre camponeses pobres sem terra ou com pouca terra, fazer avançar a produção cada vez mais cooperada entre as famílias, construir Assembleias Populares, onde os trabalhadores discutem e decidem democraticamente todos seus problemas e interesses e vão tomando seus destinos em suas mãos! Não devemos mais esperar! Será um caminho difícil e prolongado, mas é o único caminho possível para alcançar verdadeiras transformações, fazer a grande Revolução que o Brasil tanto precisa! Só assim acabaremos com a matança de pobres, poderemos viver e trabalhar com dignidade, conquistar a verdadeira justiça e todos nossos direitos e aspirações.

Se enganam senhores latifundiários e todos que o servem, se acham que ficarão impunes. Se enganam senhores se pensam que impedirão sua destruição e que com terror e matança de lideranças frearão a luta camponesa. Estão muito enganados! O sangue do companheiro Ademir e tantos outros não terá sido em vão, só faz aumentar nosso ódio e disposição de luta! O povo saberá no decorrer da sua luta vingar todos seus heróis, e todos os crimes cometidos contra o povo serão devidamente cobrados. Esperem e verão!

Lutar pela terra não é crime!

Terra para quem nela vive e trabalha!

Contra a crise, tomar todas as terras do latifúndio!

Morte ao latifúndio! Viva a Revolução Agrária!

 

LCP – Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia e Amazônia Ocidental

Jaru, 10 de julho de 2017