Mais de 500 camponeses celebraram Corte Popular da antiga fazenda Santa Elina

Nos dias 3, 4 e 5 de dezembro foi realizado a festa do Corte Popular na área da fazenda Santa Elina, município de Corumbiara/RO. Uma equipe do jornal Resistência Camponesa, convidada pela LCP, acompanhou toda a celebração.

A atividade convocada e organizada pelo CODEVISE – Comitê de Defesa das Vítimas de Santa Elina e pela LCP – Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia e Amazônia Ocidental, teve como objetivo além de festejar o corte popular, entregar os certificados de posse das terras e remarcar a importância da conquista da fazenda Santa ELina, um símbolo da resistência camponesa em nosso país, uma conquista que custou anos de muita luta, trabalho e sangue.

Desde o dia 3 começaram a chegar os primeiros participantes.  Devido a condição ruim da estrada, muitos tiveram que andar 15 km a pé para chegar até o local da celebração, a antiga sede da fazenda.  Mas isso não foi problema, o ânimo e alegria advindo da vitória camponesa sobre um símbolo do latifúndio podem superar qualquer dificuldade.

Fila para almoço coletivoDurante os três dias de celebração participaram mais de 500 pessoas das mais diversas regiões de Rondônia. Vieram camponeses e apoiadores da luta pela terra de Alto Guarajus, Rondolândia, Vanessa, Adriana, Vitória da União, Corumbiara, Cerejeiras, Chupinguaia, Vilhena, Espigão, Cacoal, Vila Palmares, Jaru, Ariquemes, Buritis, Machadinho, Canãa, Raio do Sol, Lamarca, Rio Alto, José e Nélio, Jacinópolis e Porto Velho.

No dia 4, após o almoço coletivo, foi realizada a abertura do evento com uma grande queima de fogos e em seguida todos os presentes entoaram o hino Conquistar a Terra. Logo depois representantes das organizações democráticas foram chamadas a fazer uso da palavra.  Estiveram presentes além do CODEVISE e da LCP, o Socorro Popular, o CEBRASPO (Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos), a ABRAPO (Associação Brasileira dos Advogados do Povo), o MEPR (Movimento Estudantil Popular Revolucionário), o Movimento Feminino Popular, a Liga Operária, o Sindicato dos trabalhadores Rurais de Espigão d‘Oeste, o Sindicato da Construção Civil de Belo Horizonte, a Escola Popular Orocílio Martins Gonçalves, a Escola Popular de Rondônia, a LCP do Pará, entre outros.

No final das falações foi feito uma homenagem a todas as vítimas da Fazenda Santa Elina, cada nome foi lido ao que todos respondiam: presente!

Outro homenageado foi o líder camponês Zé Bentão (Francisco Pereira do Nascimento), um dos fundadores da LCP em Rondônia, que foi brutalmente assassinado por bandos armados do latifúndio em 2008 na região de Jacinópolis. Em reconhecimento a sua memória, a Assembleia Popular da área batizou a área cortada da Fazenda Santa Elina como Área Revolucionária Zé Bentão.

Durante a noite foram apresentadas atividades culturais, onde se destacou um teatro organizado por jovens que encenava a luta de uma vila em que camponeses se rebelaram contra os abusos do latifúndio. A atividade despertou bastante interesse e muitos camponeses se emocionaram. Depois a festa continuou até mais tarde com um animado forró.

No dia 5 foram realizados torneios de futebol e vôlei. Também ocorreu o momento mais importante e especial de toda a celebração que foi a cerimônia de entrega do certificado de posse da terra.

Os nomes dos camponeses iam sendo chamados na frente da plenária e a cada um era entregue um certificado correspondente a sua posse. A alegria transbordava nos rostos de cada um que recebia o certificado de suas terras. Mais que a simples entrega de um documento, aquela cerimônia expressava a culminação de toda uma luta de 15 anos já transcorridos. E estava sendo feito um pequeno e importante acerto de contas, como bem expressou o representante da LCP:

Há 15 anos o sangue derramado pelos camponeses neste chão regou a semente da luta em nossos corações e mentes, esta semente cresceu, floresceu e deu frutos e hoje suas raízes são tão profundas que o latifúndio já não pode destruir, pelo contrário somos nós que podemos e devemos destruí-lo. Nunca devemos esquecer os combatentes que morreram assassinados pelas balas do latifúndio e pelas mãos malditas de seus carrascos. Estes companheiros carregavam consigo o sonho de ter um pedaço de terra para viverem e trabalharem com suas famílias e pagaram com suas vidas ao acreditar e lutar por este sonho.

A morte destes companheiros não foi em vão, pois hoje estamos transformando este sonho em realidade, somos herdeiros e continuadores dos mártires de Santa Elina. Estamos aqui para acertar as contas, ou pelo menos uma parte delas com o latifúndio. Não está longe o dia companheiros em que acertaremos todas as contas, e ai terão de pagar muito caro por todas as humilhações, todos os abusos, todas as mortes, toda a miséria e desgraças que causaram as gerações passadas e presentes de camponeses pobres, escravos negros e povos indígenas!”

“Estamos aqui reunidos presenciando e celebrando a destruição de mais uma parte do latifúndio, sabemos e temos dito que a cada punhalada que damos ele ficará mais fraco até que um dia morrerá pra sempre! É nisso que acreditamos e por esse objetivo temos lutado e seguiremos lutando! Façamos como os companheiros de Santa Elina para cravarmos a bandeira da Revolução Agrária por todos os cantos destruindo o latifúndio e construindo uma verdadeira e Nova Democracia em nosso país.”

Após a entrega dos 250 certificados, todos os presentes entoaram o hino dos trabalhadores e povos oprimidos do mundo, A Internacional. Em seguida uma grande queima de fogos encerra essa histórica celebração. Inicia-se os preparativos para a partida, cada um para um lugar diferente, mas todos com o ânimo revigorado.

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