A região é marcada por intensos conflitos agrários com dezenas de ocupações de terra e enfrentamentos com o latifúndio e seus bandos armados. Nos últimos anos morreram assassinados os camponeses Maninho, Oziel Nunes, Oséas Martins, Dercy Francisco Sales, José Vanderlei Parvewfki, Nélio Lima Azevedo, Élcio Machado, Gilson Teixeira Gonçalves e Renato Nathan. Sem contar as constantes humilhações, perseguições, abordagens e prisões ilegais e torturas que sofrem os camponeses desta região nas mãos da polícia.
A caminho de Rio Pardo, a Missão foi abordada numa das barreiras policiais que controlam o acesso à área e foi acompanhada por uma viatura da COE todo o tempo que esteve em Rio Pardo.
A Missão foi recebida por moradores locais e realizaram conversas e entrevistas, colhendo informações importantes que desmentem a versão do monopólio dos meios de comunicação que tenta esconder que a origem do conflito da semana passada foi o não cumprimento do acordo que os governos Dilma Roussef (PT) e Confúcio Moura (PMDB) firmaram com as famílias de Rio Pardo no ano passado.
Anos de abusos do ICMBio foram o estopim para a revolta camponesa
Após algumas horas de confronto conseguiram recuperar as motos apreendidas e libertar os 3 camponeses presos. Uma viatura da Força Nacional foi incendiada e outras também foram danificadas por pedras e paus.
Os efetivos da Força Nacional que atuaram em Rio Pardo são os mesmos que reprimiram os operários grevistas de Jirau e Santo Antônio e ajudaram a despejar acampamentos de camponeses em luta pela terra.
O ICMBio, há décadas persegue camponeses, com humilhação, destruição de roças e casas, prisões e multas abusivas. Causando prejuízos enormes à economia local de pequenos comerciantes, pequenos e médios proprietários e pequenos madeireiros. Em todas estas ações criminosas o povo respondeu com fechamento de rodovias, prisão de helicóptero do Ibama, prisão de caminhões de madeira, manifestações em Buritis, queima de viatura do Ibama, etc.
O ICMBio é um dos órgãos do velho Estado que recebe recursos bilionários e treinamento de ONGs e Universidades americanas e europeias para cacarejar sobre meio ambiente e sustentabilidade, aplicando a política de expulsão dos camponeses da Amazônia e criação de grandes reservas para atender os interesses dos grandes monopólios brasileiros e estrangeiros na região.
Estado de sítio e torturas
Desde a manhã de sexta-feira, dia 15, dezenas de homens, 47 viaturas da Polícia Federal, COE, Polícia Civil, Polícia Rodoviária Federal e 2 helicópteros do Exército e ICMBio, estão na região de Rio Pardo. Um verdadeiro aparato de guerra foi montado, com barreiras nas estradas e pontes para controlar as entradas e saídas de moradores. Os moradores de Rio Pardo seguem ameaçados de despejo e efetivos policiais continuam controlando a área.
A imprensa reproduzindo as orientações da polícia tem noticiado que esta operação é para periciar a viatura incendiada, mas há relatos de que esta operação seria para resgatar armamentos, incluindo um fuzil, perdidos durante a fuga dos policiais da Força Nacional. Moradores denunciaram que pelo menos 3 camponeses foram brutalmente torturados, com sessões de espancamentos, choques e tortura psicológica. Um escritório de dentista localizado em Rio Pardo foi destruído por policiais e o proprietário foi espancado após entregar algumas granadas e munições recolhidas após o confronto e que teriam sido abandonadas pelos policiais. Em nota a polícia disse que teria achado o material.
Um outro morador foi preso acusado de ser o autor do disparo que matou o policial, mas seu suposto nome (Iranildo) só foi divulgado posteriormente, típico de maquinações feitas pela polícia para atacar e criminalizar a luta do povo em geral e dos camponeses de Rondônia em particular.
Missão de solidariedade
Na sexta-feira, dia 15, uma comissão de advogados, estudantes de direitos e representantes de entidades democráticas visitou os 10 moradores de Rio Pardo, presos no presídio Pandinha, em Porto Velho. Advogados populares já estão trabalhando na defesa destes camponeses.
A Missão vai exigir apuração dos casos de tortura por parte da OAB, Ministério Público e Secretaria de Direitos Humanos. No fim de outubro, o Ministério Público realizou audiência pública para cobrar explicações sobre abordagens violentas da PM e Força Nacional contra moradores de Campo Novo, Jacinópolis, Rio Pardo e outras áreas da região de Buritis. Ao final da audiência, foi anunciado que teria acabado a violência na região, mas isto não é possível enquanto existirem despejos de camponeses em luta pela terra e perseguições do ICMBio aos moradores que vivem e trabalham na terra.
Todos democratas devem se unir e organizar uma campanha nacional e internacional de denúncia sobre a repressão aos camponeses e responsabilizar os governos de Dilma e Confúcio por não apresentar solução para o problema agrário que enfrentam as quase 5 mil famílias que vivem e trabalham na área assim como dezenas de outros casos parecidos em todo Brasil. Só assim será possível desmascarar as mentiras e manipulações dos monopólios dos meios de comunicação, que justificam ações violentas de todo tipo contra os camponeses pobres e trabalhadores da Amazônia em geral. Tememos que nos próximos dias ocorram mais atos de violência contra a população de Rio Pardo. Precisamos de uma grande campanha para defendê-los.
Defender a posse das terras de Rio Pardo pelos camponeses!
Liberdade imediata dos camponeses presos e fim das perseguições!
Todo apoio aos trabalhadores de Rio Pardo e região!
ABRAPO – Associação Brasileira de Advogados do Povo
CEBRASPO – Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos