Poesias de Carlos Latuff

Tributo ao camponês

Surge na paisagem
um camponês de passagem
fitando a fazenda sem fim.

Em seu peito não há paz
É sua convicção que o faz
caminhar decidido assim.

Pra que você entenda
o ódio dele pela fazenda
só sendo pobre enfim.

Solitário, o lavrador avança.
Um cavaleiro contra o castelo
tendo a foice como lança.

Os pistoleiros acham graça
enquanto deslizam cartuchos
pros seus rifles de caça.

Mas o camponês não estava sozinho.
Do horizonte que parecia deserto,
mais pessoas a caminho.

O sorriso do capataz,
agora então se desfaz.

O ímpeto do povo
que derrubou grades e portões,
fez cair também
os jagunços valentões.

Chega a polícia e seus pelotões
cujas fardas camufladas
só não camuflam as intenções.

Mas o camponês que enfrenta
malária e onça parda,
não tem medo de bicho
nem de jagunço de farda.

A terra que antes fôra
prostituída pelo fazendeiro,
volta agora as mãos do povo
seu destino verdadeiro.

Dela agora brotam lares
alimentos e esperança.
Porque não é questão de esperar,
quem luta é quem sempre alcança.

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