Repúdio ao assassinato de 9 camponeses em Colniza

Camponês torturado e assassinado por pistoleiros - Colniza, 19 de abrilNo dia 19 de abril, 9 camponeses foram torturados e assassinados por um bando armado a mando de latifundiários.

Os crimes aconteceram na linha 15 da Gleba Taquaruçu do Norte, localizada a cerca de 350 km de Colniza, e cerca de 100 km de Guariba (distrito de Colniza), região noroeste do Mato Grosso.

Todos os corpos tinham sinais de tortura. Dois foram assassinados a golpes de facão e os demais com tiros de calibre 12. Pelo menos um dos corpos foi decapitado. Todos eram camponeses, a maioria morava na área e outros estavam trabalhando na região. Três eram oriundos de Rondônia. Os camponeses assassinados e suas respectivas idades são:

Sebastião Ferreira de Souza, 57

Francisco Chaves da Silva, 56

Valmir Rangeu do Nascimento, 55

Aldo Aparecido Carlini, 50

Izaul Brito dos Santos, 50

Fábio Rodrigues dos Santos, 37

Edson Alves Antunes, 32

Ezequias Santos de Oliveira, 26

Samuel Antônio da Cunha, 23

Há informação de possíveis desaparecidos.

Nos solidarizamos com as famílias dos camponeses assassinados, e com as famílias que tem bravamente resistido nessa região. Repudiamos com veemência esse odioso crime do latifúndio.

Essa não é a primeira vez que pistoleiros a serviço do latifúndio cometem crimes contra os camponeses nessa região. Em 2004, 185 famílias foram expulsas de suas posses pelos latifundiários que queriam se adonar dessas terras ricas em madeira e minério. Mesmo o juiz tendo concedido reintegração de posse favorável às famílias (caso raro), os ataques e ameaças continuaram.

Em 2007, 5 camponeses foram assassinados, outros 10 camponeses foram torturados e mantidos em cárcere privado. Entre eles estava Francisco Chaves da Silva que agora nesse 19 de abril foi novamente torturado e em seguida assassinado. Tais crimes motivaram na época uma operação da polícia que localizou pelo menos 2 ossadas humanas, apreendeu farto armamento e chegou a prender alguns fazendeiros, que logo foram soltos e mantidos impunes.

Em 2011, mais de 700 pessoas que estavam acampadas na entrada da Fazenda Estrela, foram atacadas e expulsas da área.

Em 2013 uma aeronave pulverizou agrotóxico sobre as famílias. Um fazendeiro chegou a ser preso, mas solto em seguida.

Em 2014, quando estavam a caminho de realizar denúncias a ouvidoria agrária, o presidente de uma associação de produtores rurais, Josias Paulino de Castro, 54 anos, e sua mulher Ireni da Silva Castro, 35 anos, foram assassinados numa estrada da região de Guariba por tiros de calibre 9 mm.

Camponês torturado e assassinado por pistoleiros - Colniza, 19 de abrilNo mês de abril desse ano as famílias continuaram a receber ameaças. Cruzes foram afixadas próximo a área. Pistoleiros de uma fazenda vizinha ameaçaram uma criança de 10 anos e a impediram de seguir destino. Outro morador foi agredido com cordas pelos mesmos pistoleiros.

As famílias já tiveram por diversas ocasiões várias casas incendiadas, barracos alvejados por tiros, cercas e plantações destruídas. Já sofreram várias ameaças e tentativas de assassinato.

Tudo isso é de conhecimento do velho Estado, inclusive através de denúncias, ocorrências e processos judiciais. Uma moradora de uma área em Nova Guarita que sofre as mesmas ameaças, perseguições e ataques dos bandos armados do latifúndio, relata que nos últimos anos já colecionaram cerca de 396 documentos registrados, entre denúncias e boletins de ocorrências contra os crimes do latifúndio na região.

Investigações da própria polícia civil, de dois anos atrás, apontava que os gerentes das fazendas (eximem o latifundiários, verdadeiros mandantes e em muitos casos também executores dos crimes) “comandavam uma rede de pistoleiros altamente armados, que usavam do terror na região para que a área fosse desocupada”.

Mesmo diante de tantas evidências e histórico de crimes do latifúndio na região, (que em essência não difere do restante do país), setores dos monopólios de imprensa, polícia e gerentes do velho Estado ainda insinuam de forma canalha a “possibilidade” de que os 9 camponeses torturados e assassinados seria resultado de uma disputa entre os próprios “invasores”, como fez em declaração o próprio secretário de segurança pública de Mato Grosso, Rogers Jarbas numa comitiva em visita a Colniza.

Mas não poderia se esperar nada diferente dessa gente sempre empenhada e organizada para defender os interesses do latifúndio e serem porta-vozes dessa classe atrasada que mantêm há séculos nosso país na condição de semicolonial e semifeudal. Até porque muitos são, eles próprios, grandes latifundiários e mantêm seus próprios bandos armados. Dentre tantos exemplos, vejam o caso de Eliseu Padilha (atual ministro da Casa Civil, órgão do qual o INCRA e a FUNAI estão subordinados) que teve por acaso arsenal encontrado pelo ministério público de MT quando cumpria mandado de apreensão de gado numa das suas fazendas e de seus sócios, onde também detectaram o que denominam “trabalho escravo”.

Clique aqui para ler: E então, senhores? Ministério público do Mato Grosso apreende arsenal em latifúndio de ministro de Temer

Vejam o caso de como após a operação da polícia federal denominada “carne fraca”, se levantou uma grande e organizada gritaria para minimizar os crimes cometidos (nem de longe os mais graves) e a defender ardorosamente por diversos meios os interesses do latifúndio.

Clique aqui para ler: A carne é fraca, o latifúndio é “forte”! (mas um gigante com pés de barro que vai ser varrido pela Revolução Agrária!)

E vejam agora, como agem diante de tão graves crimes como esses cometidos na região de Colniza. Se não fazem ataques abertos aos “invasores”, insinuam disputas entre eles, ou simplesmente mantêm o cúmplice silêncio.

Camponeses torturados e assassinados por pistoleiros - Colniza, 19 de abrilDesde os assassinatos de camponeses em Corumbiara em 1995 e Eldorado dos Carajás, este último ocorrido há exatos 20 anos em abril de 1997, os crimes do latifúndio contra os camponeses, na tentativa de intimidar e frear a luta camponesa não cessaram. Na verdade se intensificaram, particularmente durante os anos do gerenciamento petista quando nunca antes nesse país o latifúndio se viu tão encorajado e acobertado, situação que persiste e se agravou ainda mais com o gerenciamento de Temer e sua quadrilha, e que seguirá se agravando e repetindo até que o latifúndio e tudo que o sustenta for destruído.

Mesmo diante dos ataques do latifúndio, as massas camponesas tem enfrentado corajosamente essa situação, e ainda que em condições desiguais vão persistindo, resistindo e avançando na luta pela terra com mais organização e combatividade.

Dados divulgados pela CPT – Comissão Pastoral da Terra, dias antes da matança em Colniza, mostra em números essa situação. Os dados são de 2016 e seguramente são subestimados, uma vez que muitos não são notificados, são registrados sem vinculação à luta pela terra ou não chegam ao conhecimento da CPT. Mesmo assim os dados mostram a gravidade da situação e evidenciam a existência de uma guerra civil reacionária.

Ao lado do aumento das tomadas de terra, aumentou o número de camponeses assassinados. O ano de 2016 foi o segundo mais violento dos últimos 25 anos, com pelo menos 61 pessoas assassinadas no campo. E não é mera coincidência que esses assassinatos são seletivos, atingindo principalmente lideranças camponesas e indígenas.

As tentativas de assassinatos registradas em 2016 foram ao menos 74. Foram pelo menos 200 ameaças de morte, 571 agressões e 228 presos.

Em 2017 esse número tende aumentar, em pouco mais de 3 meses já passam de duas dezenas o número de camponeses assassinados.

Camponês torturado e assassinado por pistoleiros - Colniza, 19 de abrilConforme a CPT, em 2016, a violência contra as ocupações e a posse da terra registrou 1.295 ocorrências, envolvendo 137.347 famílias, nas quais “17.447 famílias estiveram sob a mira de pistoleiros; 31.278 viveram sob ameaças de serem despejadas; 21.006 sofreram ameaças ou tentativas de expulsão; 3.827 famílias tiveram suas casas destruídas; 4.611 tiveram roças destruídas e 3.071 tiveram outros bens destruídos”.

Em 2016, ao menos 12.829 famílias foram despejadas pelas forças policiais do velho Estado. Além disso, 2.639 famílias foram expulsas criminosa e ilegalmente sem nenhum tipo de mandado de reintegração de posse, diretamente pelos latifundiários através de seus bandos paramilitares que contam inclusive com participação de policiais.

Ao contrário da podre e cínica publicidade do monopólio rede globo, que busca embelezar e enaltecer o latifúndio, com o “agro é pop, agro é tech”, etc, o sistema latifundiário real e verdadeiro é isso: atrasado, semifeudal, ladrão de terra, criminoso, torturador e assassino de camponeses.

Na pocilga reacionária chamada congresso nacional multiplicam-se ações, expressas em leis contra os direitos do povo, principalmente do campo. Segundo a CPT, em 2016, foram propostas novas 40 ações que atacam os direitos da população do campo.

A contrarreforma da previdência que a canalha corrupta e vende pátria se apressa para aprovar, seguindo os ditames de seus patrões imperialistas, terá nas massas do campo os maiores prejudicados.

Também estão atuando para paralisar Incra, Funai e Fundação Palmares que no papel deveriam assegurar os direitos de camponeses, indígenas e quilombolas, respectivamente. Órgãos antes já inoperantes, hoje escancaram uma existência meramente burocrática.

Mais que nunca é necessário abandonar as ilusões com esse velho e apodrecido Estado serviçal do latifúndio e do imperialismo! Não devemos esperar, devemos e podemos acabar com eles! E por mais difícil e prolongado que seja o único caminho para verdadeiras transformações é de uma grande Revolução, é disso que o Brasil precisa! E essa revolução começa com a Revolução Agrária para varrer e destruir de vez o latifúndio, entregando as terras aos camponeses pobres, e iniciando um caminho de transformações onde o povo poderá viver e trabalhar com dignidade, conquistar a verdadeira justiça e todos seus direitos e aspirações.

Se enganam senhores latifundiários se acham que ficarão impunes. Se enganam senhores se pensam que impedirão sua destruição e que com terror e matança frearão a luta camponesa. O sangue dos companheiros de Colniza e tantos outros não terá sido em vão, só faz aumentar nosso ódio e disposição de luta! O povo saberá no decorrer da sua luta vingar todos seus heróis, e todos os crimes cometidos contra o povo serão devidamente cobrados.

Comissão Nacional das Ligas de Camponeses Pobres

Goiânia, 29 de abril de 2017

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