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SP: Camponeses que ocupam fazenda são ameaçados de despejo ilegítimo

O acampamento Marielle
Vive, no município de Valinhos, em São Paulo, recebeu no dia 12 de
agosto uma ordem de despejo decretando que as cerca de mil famílias que
vivem acampadas desmontem suas casas e vão embora em um prazo irrisório
de 15 dias. O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST)
denuncia que a decisão da juíza, Bianca Vasconcelos, ignora que, como o
acampamento já possui mais de um ano, deveria haver uma reunião prévia
com os camponeses, o que não aconteceu nem foi estipulado.

As centenas de famílias
estão desde o dia 14 de abril de 2018 ocupando a fazenda Eldorado
Empreendimentos Imobiliários Ltda, que foi renomeada pelos camponeses em
memória à Marielle Franco, vereadora executada durante a intervenção
militar no Rio de Janeiro em maio de 2018. Segundo eles, a fazenda
estava abandonada e improdutiva.

Em nota publicada no
site do MST, os camponeses reiteram que, após a tomada das terras do
latifúndio, agora se cultivam hortaliças e ervas medicinais na
propriedade, onde também desenvolvem projetos culturais e diversas
oficinas de artesanato e bioconstrução. Além disso, garantem a educação
para as crianças, bem como aulas de alfabetização e ensino para os
jovens e adultos que vivem no acampamento.

A nota também acusa
inúmeras irregularidades na ordem de despejo da juíza, uma vez que ela
tomou como base um contrato firmado em 2009 pela empresa que
administrava a fazenda, relativa a um arrendamento da terra para criação
de gado, como pretexto para afirmar que a propriedade estaria
produtiva. O contrato, no entanto, tinha validade de 24 meses e expirou
há mais de sete anos.

O MST afirma que o
Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) já suspendeu, em 2018, uma
liminar de reintegração de posse do acampamento, por entender que não há
comprovações de que os supostos proprietários não a abandonaram e
continuam tendo posse dela. Os camponeses alegam que a perseguição ao
acampamento é resultado da intensa especulação imobiliária das terras
paulistas, e que há interesse de se construir um condomínio de luxo na
região.

Por cúmulo, o
acampamento ainda está de luto pelo assassinato de um dos camponeses que
lá vivia. No dia 18 de julho de 2019, um senhor de 72 anos, Luis
Ferreira da Costa, foi atropelado por um homem que jogou sua caminhonete
contra manifestantes do acampamento que fechavam a estrada dos
Jequitibás, denunciando a falta de água na ocupação. Outras cinco
pessoas também ficaram feridas pelo atropelamento, que configura um
crime de terror contra o povo e suas reivindicações pelo que é justo.

Fotos: MST

Por Júlia Izecksohn