MA: Liderança quilombola é assassinada por pistoleiros

Publicado originalmente por Taís Souza em anovademocracia.com.br, em 7 de maio de 2022

No dia 29 de abril, o líder quilombola Edvaldo Pereira Rocha foi assassinado por pistoleiros. Edvaldo era presidente da Associação de Quilombolas do povoado Jacarezinho, localizada na cidade de São João do Soter, no estado do Maranhão. A região é alvo de contínuos ataques do latifúndio que busca expulsar os quilombolas dos territórios.

Edvaldo foi alvejado com oito tiros disparados por dois pistoleiros em uma motocicleta na manhã de 29/04, no KM 36 da rodovia MA-127. O líder quilombola havia agendado para os dias seguintes um depoimento onde ele denunciaria a extração ilegal de madeira na região do Quilombo Jacarezinho.

“Ele era uma referência não só para a sua comunidade, mas também para várias outras comunidades ao redor”, afirmou Mayron Regis Brito Borges, presidente do Fórum Carajás.

O Quilombo Jacarezinho

Apesar do território ter a certificação quilombola emitida pela Fundação Palmares e um processo de regularização fundiária no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) que segue em andamento desde 2006, os quilombolas seguem aguardando a titulação das terras. Enquanto isso,  o latifúndio segue com inúmeras investidas para tomar toda a região.

No ano de 2016, um homem conhecido como “Gaguinho” comunicou que através de um leilão arrematou as terras da comunidade quilombola. Ele logo iniciou a criação de gados e desmatamento do local.

De acordo com denúncia realizada pelo Forúns e Redes de Cidadania do Maranhão, a região onde ocorreu o assassinato “faz parte do famigerado corredor Matopiba, nova fronteira agrícola que conta com total apoio dos governos federal e estadual e que está avançando sobre comunidades tradicionais no interior do Maranhão”. 

Trata-se de um projeto revestido de “desenvolvimento” sobre uma área que engloba parte do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, onde é estimulado o avanço da fronteira agrícola, ou seja, do latifúndio, sobre territórios. Todavia estes já são habitados por camponeses, quilombolas e indígenas. O movimento denuncia que o Instituto de Colonização e Terras do Maranhão (Iterma) tem emitido diversos títulos aos latifundiários que empurram os camponeses para verdadeiros campos de guerra.

A guerra injusta

O relatório Conflitos no Campo Brasil 2021 emitido no começo de 2022 pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) aponta que dos 97 casos de conflitos agrários relatados no Maranhão, 84 foram identificados na Região do Matopiba. Mais da m|etade dessas ocorrências (43) foram contra os quilombolas. Todos os nove trabalhadores assassinados em meio a luta pela terra no estado do Maranhão em 2021 eram quilombolas.

A comunidade denuncia que nenhum dos executores dos assassinatos foi julgado ou preso. Os quilombolas reafirmam o compromisso com a luta pelo justo direito à terra e declaram que a luta e morte de Edvaldo não serão vãs.

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