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Vídeo: indígenas Kinikinau relatam agressão do velho Estado na retomada de seu território

Seu Manoel, liderança Kinikinau. Foto: Comitê de Apoio ao Jornal A Nova Democracia – Campo Grande (MS)

No último dia 1º de
agosto, por volta das 4h da manhã, 200 indígenas do povo Kinikinau,
entre eles idosos e crianças, retomaram seu território na fazenda Água
Branca, no município de Aquidauana (MS), área reivindicada há mais de
cem anos pela etnia como território tradicional. De forma ilegal e sem
ordem judicial do âmbito federal, imediatamente depois, no mesmo dia, o
prefeito da cidade, Odilon Ribeiro (latifundiário e primo da atual
ministra da Agricultura, Tereza Cristina), convocou as
forças repressivas do velho Estado para despejarem os indígenas na base
de agressões e humilhações.

Nos relatos dos
indígenas, o cenário de guerra foi explícito. O confronto começou por
volta das 16h e durou até às 18h. As forças repressivas que estavam
presentes eram a Força Tática da Polícia Militar (PM) e a Polícia Civil,
e há relatos que havia também pistoleiros a mando do proprietário da
fazenda.

A correlação de forças
era desproporcional: 200 indígenas para 40 policiais que já estavam no
local, e mais 90 policiais que o prefeito deslocou depois, utilizando,
inclusive, um ônibus escolar municipal para levá-los.

As forças reacionárias
entraram pela fazenda Boa Vista, ao fundo da fazenda Água Clara, para
fazer o cercamento do grupo e isolá-lo. Enquanto cercavam os Kinikinau,
um helicóptero sobrevoava o céu jogando bombas de gás lacrimogênios para
despistar os indígenas. No final do dia, o pasto estava em chamas
devido às bombas lançadas pelo helicóptero.

Segundo as
informações, as forças repressivas, após o ato ilegal de reintegração de
posse, encontram-se espalhadas e “aquarteladas” nas mediações da
fazenda Água Clara, em tentativas de causar medo e intimação ao povo
Kinikinau. 

A liderança do povo Kinikinau, Seu Manoel, foi gravemente ferido na cabeça por uma bomba de gás lacrimogêneo.
Em seu relato, no mesmo dia em que houve a reintegração de posse,
Manoel foi levado urgentemente aos ambulatórios de emergência médica nas
cidades de Miranda e Aquidauana, porém, nos dois ambulatórios lhe foi
negada a assistência. Como demonstrou em vídeo, Seu Manoel expressa sentir dores ao falar.

Reivindicada há mais de
cem anos como território tradicional pelos Kinikinau, a fazenda Água
Clara, que tem como posseira a Fundação Bradesco, era, no passado, o
antigo aldeamento Agachi do grupo étnico. O estudo de caso antropológico
já foi protocolado pela Fundação Nacional do Índio (Funai) e, como
consta no relatório do antropólogo Gilberto Azanha, responsável pelo
laudo do território Agachi, “em vista da omissão do órgão responsável
pelos procedimentos de reconhecimento das terras de ocupação tradicional
dos povos indígenas no Brasil, em novembro de 2017 lideranças do povo
Kinikinau presentes na 12ª Assembleia do Povo Terena, realizada na
aldeia Água Branca (TI Taunay-Ipegue), solicitaram ao antropólogo
Gilberto Azanha, ali presente, a realização dos mencionados estudos. Em
15 de novembro de 2018, durante a realização da 5ª Assembleia do Povo
Kinikinau na aldeia Mãe Terra (TI Cachoeirinha), estes estudos foram
lidos para os presente e aprovados”.

É a primeira vez que os
Kinikinau retomam seu território e, mesmo diante das agressões e ameaças
promovidas pelo velho Estado, eles garantem que essa primeira tentativa
de foi apenas o início, e se não houver demarcação dentro dos marcos
jurídicos, o povo vai continuar na luta arrancando o que é deles sem
pedir licença.

Foto: Reprodução