Em nota publicada no dia 16 de julho último a Fetagro (Federação dos Trabalhadores na Agricultura de Rondônia) afirma que, um de seus diretores, o secretario de Meio Ambiente Teófilo Santana esteve na fazenda Maranata (uma das três partes em que foi desmembrada a fazenda Santa Elina) e relatou situações de ameaças a “lideranças dos acampamentos Rio das Pedras, Zigolândia e Cambará” por parte de integrantes da LCP. Teria dito ainda ter presenciado “homens portando armas em reuniões” e que também teria visto “um grupo fortemente armado que estaria na divisa da fazenda ameaçando as pessoas que encontravam pela frente”.
Ainda na nota a Fetagro exige a “desocupação da área pela policia” e “exclusão das famílias do processo de reforma agrária”. Por fim pedem “com a máxima urgência a presença da Policia Civil, da Policia Federal que efetue o desarmamento das lideranças e acampados da LIGA para evitar mais um massacre, só que dessa vez entre trabalhadores.”
Diante destas acusações a LCP vem a público esclarecer que:
1. No final de 2005 famílias remanescentes de Santa Elina organizadas pelo Codevise – Comitê de Defesa das Vítimas de Santa Elina, iniciaram uma campanha pela indenização das vítimas e corte da fazenda. Esta campanha foi realizada em todo estado de Rondônia através de entrevistas em rádios, televisão, matérias na imprensa escrita, panfletos, atos públicos e palestras na Universidade Federal de Rondônia e Acre. Em 2007 a campanha foi retomada com o objetivo de divulgar para todo o país que passados 12 anos as vítimas seguiam lutando por seus direitos.
2. Em agosto de 2007 as vítimas ficaram 23 dias acampados em Brasília. Foram várias reuniões com junto a Secretária Especial de Direitos Humanos, Comissão de Direitos Humanos e Gabinete da presidência da República em que ficou acordado uma série de medidas, entre elas a indenização e o corte da fazenda. Mas numa reunião aqui em Rondônia com a presença de 440 vítimas e familiares o ministro de direitos humanos Paulo Vanucci sem ouvir ninguém passou por cima do que fora acordado e nomeou a Fetagro como intermediadora entre as vítimas e o governo. A Fetagro na época embolsou 94 mil reais para fazer o levantamento dos que teriam direito a indenização. Até hoje não sabemos o que foi feito sobre isso.
3. Cansados de esperar, famílias mobilizadas pelo Codevise e LCP ocupam a fazenda Santa Elina em maio de 2008. Famílias dos acampamentos Rio das Pedras, Zigolândia e Cambará que estavam há anos em barracos de lona nas cidades de Corumbiara e Cerejeiras se juntam ao acampamento do Codevise. Alguns elementos chamados de “lideranças” pela Fetagro, conhecidos como Sandro Paulo, Pelé Branco, Vera e Bob logo foram expulsos por votação da maioria numa assembleia do acampamento em 2008 por usarem de mentiras e manipulações, por não aceitarem as regras discutidas e decididas coletivamente dentre as quais, a proibição do uso de bebidas alcoólicas dentro do acampamento.
4. Estes bandidos se escondiam atrás da sigla MAP, “um movimento” criado nos escritórios do Incra em Pimenta Bueno como forma de abocanhar recursos do governo federal via projetinhos de reforma agrária. Antes de serem expulsos, foram usados pelo Incra de Rondônia, principalmente pelo superintendente Carlino Lima (PT) para desmobilizar as famílias em 2008, fazendo promessas de terras em outras áreas e convencendo uma parte delas a retornarem para os barracos de lona na cidade. Para fazer este papel sujo receberam do Incra o repasse de 50 mil reais, 400 cestas básicas e lonas. Curioso é que ao contrário dos camponeses que foram iludidos e acabaram saindo da área, estes elementos todos melhoraram de vida.
5. Os sindicatos dos trabalhadores rurais de Corumbiara e Cerejeiras em conluio com estes bandidos há tempos usam estes acampados como massa de manobra para seus interesses eleitoreiros e pessoais. Existem também boatos de que funcionários do Incra de Colorado do Oeste estariam vendendo lotes antes mesmo da área da fazenda ser desapropriada. Este é o triste fim de toda esta burocracia petista, encastelada nas estruturas de sindicatos e governo, usam de um passado de participação na luta popular para enganar incautos, pois na prática reproduzem em menor escala a corrupção e os desmandos dos altos círculos de poder. Essa gente já deu provas suficiente de que para galgarem os mais subalternos postos na máquina administrativa do velho Estado burguês-latifundiário lançam mão de todo tipo de intrigas, maquinações e mentiras.
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9. Durante a ocupação em 2008 os acampados sofreram vários ataques de bandos armados do latifúndio, nunca a Fetagro ou os sindicatos exigiram que a polícia fosse desarmar estes bandos! Também no ano passado um grupo paramilitar contratado no Mato Grosso fez a segurança da fazenda Maranata. Tampouco a Fetagro escreveu uma única linha pedindo ação das “autoridades”! Em julho de 2010 o Codevise e a LCP mobilizaram as famílias e retomaram a fazenda Santa Elina. A atitude do Incra, do ex-deputado Anselmo e da Fetagro foi a mesma, a de exigir o uso da policia para desocupar a área e a prisão das lideranças.
Queremos por fim dizer a Fetagro que nunca usamos e nunca usaremos de intimidação ou de ameaça contra famílias de trabalhadores, principalmente de camponeses pobres. Este foi um dos motivos de termos rompido com o MCC que acaudilhado por Adelino Ramos degenerou em banditismo, extorsão, mandonismo e todo tipo de prática mafiosa contra os trabalhadores em várias tomadas de terra e assentamentos de Rondônia.
Em nossa opinião é a Fetagro quem está ameaçando e intimidando as famílias ao exigirem a desocupação da área pela polícia. É a Fetagro quem está ameaçando ao dedurar e exigir prisão de camponeses e lideranças. Ao mesmo tempo é a Fetagro quem covardemente mente sobre a existência de camponeses armados para justificar todo tipo de repressão policial.
As famílias que estão há mais de uma ano nas terras da fazenda Santa Elina, já cortaram os lotes, construíram casas, montaram escola, arrumaram estradas e possuem uma grande produção. São motivos de sobra para estarem decididas a repelir qualquer tentativa oportunista da direção da Fetagro e seus sindicalistas de atacar seus interesses e sua justa luta.
Combater e desmascarar o oportunismo eleitoreiro, o sindicalismo pelego e a traição de classe!
Conquistar a terra! Destruir o latifúndio!
Defender a posse pelos camponeses da Fazenda Santa Elina!
Viva a Revolução Agrária!
Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia e Amazônia Ocidental – LCP
Jaru, 19 de julho de 2011