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Incra defende latifundiários assassinos em Buritis

No último dia 10 de julho o Incra veiculou uma nota em jornais impressos e sites de notícias de Rondônia condenando um panfleto da LCP que chama a população de Buritis e região a retomar a área da fazenda Catâneo, na BR 421, município de Campo Novo. Na nota, o superintendente do Incra em Rondônia, Carlino Lima, afirmou que estes chamamentos de tomada de terra “desencadeiam conflitos agrários cujas conseqüências são imprevisíveis”.

Além de enrolar os camponeses, o Incra ainda reforça os argumentos dos latifundiários e sua imprensa vendida de criminalização da luta pela terra, acusando os camponeses de serem os responsáveis pelas perseguições, torturas, assassinatos e massacres contra os próprios camponeses.

Ora essa, só quem mora em outro planeta ou quem olha, mas não quer enxergar pode acreditar numa sandice destas!

Vejamos apenas o exemplo da fazenda Catâneo, próximo de Buritis.

A fazenda foi grilada pelo latifundiário Ernesto Catâneo, segundo confirmou o próprio sr. Carlino. No início de 2008, cerca de 300 famílias camponesas, cansadas de esperar pela reforma agrária falida do governo, cansados do desemprego e da miséria nas periferias das cidades, se organizaram e tomaram a fazenda, formando o Acampamento Conquista da União.

No dia 09 de abril o Acampamento foi atacado por mais de 30 pistoleiros fortemente armados. Homens, mulheres, idosos e crianças foram obrigados a correr pelo mato apenas com a roupa do corpo, deixando para trás todos seus pertences, roupas, mantimentos, documentos, ferramentas, motos, que foram queimados pelos pistoleiros.

O genro do Catâneo, Edson Luiz Liutti, confessou para uma comissão com representantes da Polícia Ambiental, CPT e Ouvidoria Agrária Nacional que mandou fazer o ataque, e mais, que ele mesmo participou dando tiros pra cima.

Mesmo assim nada foi feito contra ele, o que encorajou outros ataques. O sr. Edson Liutti contratou uma empresa de segurança particular de Mato Grosso que tem atuado junto de outros pistoleiros ameaçando e intimidando a população do entorno da fazenda. Famílias que já moravam há 10, 15 anos vizinhas ao Acampamento foram despejadas.

No dia 29 de março, cerca de 15 famílias camponesas que iam de caminhão para o novo acampamento caíram numa emboscada na estrada. Os pistoleiros atiraram contra o caminhão e assassinaram o motorista, Edson Dutra, então candidato a vereador pelo PT em Buritis.

Mais um crime impune do latifúndio na região de Buritis.

Declarações como as do sr. Carlino só comprovam que o Incra serve ao latifúndio.

Temos mais provas.

No final de março, quando começou uma campanha na mídia nacional e estadual com calúnias contra os camponeses de Buritis e a LCP, funcionários do Incra foram até o Acampamento Gonçalo, na época localizado na região de Palmares, Theobroma. Eles filmaram e fotografaram os camponeses e distribuíram cópias da matéria mentirosa da revista IstoÉ e ainda posaram de imparciais, dizendo “não queremos influenciar vocês, queremos que vocês tirem suas próprias conclusões”.

O Incra chama os camponeses e movimentos de luta pela terra para reuniões em Porto Velho onde participam todo tipo de polícia, até a Abin – Agência Brasileira de Informação, como fizeram no mês passado. Não somos bandidos, portanto não temos nada para discutir com polícia, ainda mais a Abin que é o extinto SNI – Serviço Nacional de Informações, órgão que mais torturou democratas e revolucionários em todo o país, durante o gerenciamento militar.

Outra prática suja do Incra, que ocorre não só aqui em Rondônia, é jogar povo contra povo, movimento contra movimento. É o caso dos Acampamentos Nova Conquista, em União Bandeirantes, Gonçalo, Lamarquinha e Antônio Conselheiro, em Theobroma, dentre tantos outros.

O Incra prometeu assentar as famílias do Gonçalo numa área em Machadinho D’Oeste. Os companheiros chegaram a mudar o acampamento e agora o Incra diz que a área é para outros acampados.

Outro exemplo é o do Acampamento Nova Conquista. No dia 07 de julho eles foram despejados por mais de 200 homens, entre policiais e pistoleiros, por ordem do juiz Jorge Luiz dos Santos Leal, que contrariou decisão da justiça federal favorável ao Incra. Agora, a sra. Márcia, funcionária da instituição quer destinar os lotes para outras famílias, passando por cima dos camponeses que já estão em cima das terras lutando por seu direito, que sofreram vários ataques de pistoleiros e despejos. Não fosse por eles, o processo da área estaria parado.

Em outra nota do Incra, veiculada pela imprensa, esta sobre o Acampamento Nova Conquista, afirmavam que os camponeses não teriam direito às terras, pois elas estão no zoneamento 2. Porque o Incra não denuncia os latifundiários que derrubam em áreas de zoneamento 2 e até em áreas de reserva?

O sr. Carlino disse que “as ações do Incra se pautam pela legalidade”, o que não quer dizer muito para os camponeses, já que a maioria das leis são favoráveis aos latifundiários, a quem tem dinheiro e não a quem trabalha duro. Mas nem as leis que eles tanto jogam na cara do povo o Incra gosta de cumprir. Todos sabem que seus funcionários estão vinculados à grilagens de terras da União. O Incra de Rondônia é uma verdadeira corretora de imóveis.

E em ano eleitoral, como este em que nós estamos, aí é que as negociatas rolam soltas.

E para fecharmos esta pequena lista dos infindáveis atos repressivos do Incra contra os camponeses, no último dia 30 de junho, o sr. Carlino chamou a polícia federal para reprimir os camponeses do Acampamento Flor do Amazonas e Acampamento Jequitibá (Candeias Jamary) e também do Acampamento Canaã II (região de Machadinho) que estavam na sede do Incra em Porto Velho exigindo a regularização de suas terras. Os policiais armados com fuzis, metralhadoras e pistolas agrediram física e verbalmente os camponeses que se encontravam no local e prenderam duas pessoas.

Isto é um fato bem significativo, pois é assim que o Incra e todos os governos tratam a luta dos camponeses: como caso de polícia.

Ora, o que causa as tomadas de terra é a alta concentração fundiária no país, contra a qual o Incra deveria lutar, já que é o órgão responsável pela reforma agrária. Mas o Incra não faz nada pelos camponeses.

Não resta outro caminho aos camponeses que tomar as terras do latifúndio, cortar e distribuir os lotes por conta.

Chega de enrolação! O povo quer terra, não repressão!

LCP – Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia e Amazônia Ocidental