O “governo da floresta” do PT e a política ambiental a serviço do imperialismo no Acre

Nos últimos meses o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri tem enfrentado uma série de manobras do governo do Acre (PT) que se auto-denomina Governo da Floresta, dizendo de forma clara o que defende. Essas manobras que vão de manipulação jurídica a pressões sobre as massas utilizando-se de secretarias de estado que visam atacar a justa luta dos seringueiros e demais trabalhadores contra a falência do tão propalado modelo de desenvolvimento sustentável implementado há quase duas décadas pelas ONGs – imperialistas e outras travestidas de nacionais – com o objetivo de expulsar os trabalhadores de suas terras através da implantação e controle de imensas reservas ambientais.

Nestas reservas o povo brasileiro é impedido de produzir e de retirar de seu solo os alimentos e demais produtos necessários a sua sobrevivência, mas as grandes madeireiras, fazendeiros/grileiros e “cientistas” estrangeiros circulam com total apoio e cumplicidade do aparato estatal realizando o mapeamento e saque da imensa riqueza natural destas áreas. Como se fosse uma ironia, como nos velhos tempos, os camponeses – seringueiros e agricultores – da região voltam a enfrentar a convergente ação dos latifundiários com o velho Estado (sob “nova” direção).

Em maio, quando ocorreram as eleições do STR, o jornal Resistência Camponesa denunciou a participação de secretários de estado e a utilização de recursos do governo no apoio à chapa governista, que foi derrotada pela organização e combatividade dos trabalhadores. Mesmo com a derrota, as manobras seguiram com a censura ao programa semanal do sindicato numa rádio comunitária local e com a tentativa da Federação dos Trabalhadores do Acre (controlada pelo PT) de intervir diretamente na direção do sindicato.

Nesta oportunidade apresentamos uma entrevista concedida pela presidente do STR de Xapuri, Dercy Teles de Carvalho Cunha, que fala sobre a formação do sindicato, das lutas pela posse das terras e o papel nefasto que tem cumprido o oportunismo do PT que junto com as ONGs transformaram o Acre num estado a serviço dos interesses imperialistas e que agora vêem ruir de cima a baixo a política ambientalista, principalmente pelo crescimento do descontentamento e da revolta dos camponeses e seringueiros. A culminação dos atos de intimidação e tentativas de manobras resultou na violência aberta contra os trabalhadores através do IBAMA e polícias. Faz-se necessária a ampla difusão da resistência, dentro e fora do país, gerando o necessário apoio à luta combativa que se desenvolve às duras penas na região.

Resistência Camponesa: Como foi a formação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri?

Dercy: A formação do STR se deu quando os seringalistas venderam os seringais da região para os latifundiários que começaram a expulsar as famílias utilizando pistoleiros, queimando casas. O STR surgiu, portanto da necessidade de lutar pela posse destas terras.

RC: Fale um pouco sobre a luta pela posse da terra na região de Xapuri nos últimos anos?

Dercy: Na verdade nos últimos vinte anos ocorreu o desmanche da organização dos trabalhadores, prova disto é o fato dos dirigentes terem passado a viver da história de Chico Mendes. É tanto que não houve mais nenhuma conquista após a morte de Chico. Falo isso porque os seringais que ficaram fora da Resex – Reserva Extrativista, até hoje estão com a situação fundiária irregular, prejudicando a vida dos posseiros, que inclusive estão proibidos de fazerem seus roçados, por estarem em área irregular.

RC: A partir de quando surge o discurso ambientalista no Acre e como foi utilizado?

Dercy: Esse discurso surgiu a partir de interesses internacionais, tendo como mediadora entre Chico Mendes e representantes do BIRD – Banco Interamericano de Desenvolvimento a Sra. Mary Allegreti. Ela levou Chico Mendes para denunciar a devastação da Amazônia nos Estados Unidos, oportunidade em que o mesmo foi condecorado como “defensor” da Amazônia. Pouco tempo após essa viagem ele foi assassinado, e os que o precederam mantiveram o discurso que até então só tem beneficiado os interesses do imperialismo na Amazônia, enquanto os seringueiros em sua maioria estão vivendo cada dia mais pobres. Principalmente os que vivem do extrativismo.

RC: Quais são as principais contradições hoje entre os seringueiros e a política ambientalista? Quais são os principais inimigos dos seringueiros hoje? Quais são as principais reivindicações?

Dercy: A principal contradição é que a Resex Chico Mendes não foi pensada com o objetivo exclusivo de preservação, ela foi pensada como um modelo de reforma agrária adequada a realidade dos seringueiros. Isso porque na época o extrativismo ainda garantia o mínimo do mínimo. A Resex foi criada pela força da luta dos trabalhadores, mas hoje eles estão vivendo sob o domínio das políticas ambientais, são o IBAMA e ICM BIO – Instituto Chico Mendes quem determinam o que pode e o que não pode ser feito pelos moradores, totalmente contra ao que o Chico Mendes defendia que era liberdade, bem estar econômico e social pra categoria. Um dos fatos mais revoltantes é que o atual “governo da floresta” (PT) chegou ao poder com o discurso de defesa dos seringueiros, quando na verdade defende o capital selvagem.

RC: Qual o papel do PT na defesa deste projeto ambientalista? Como atuam os órgãos estaduais e municipais na repressão?

Dercy: Na verdade, os órgãos estaduais e municipais não têm aparecido muito no que se refere à repressão dos trabalhadores, tem deixado isso sob a responsabilidade do IBAMA e ICM-BIO. Por parte do estado, apenas o IMAC – Instituto de Meio Ambiente do Acre se manifesta, não liberando licença para desmate. Consideramos o principal inimigo dos seringueiros hoje, o governo do PT que só sabe reprimir e não apresenta alternativas que substituam a forma tradicional de produção agrícola, já que não podemos sobreviver do extrativismo falido.

RC: Você acha que está ocorrendo um desmascaramento do oportunismo do PT junto aos trabalhadores?

Dercy: Com certeza, a prova disso foi nossa reeleição em 30 de maio passado, onde – apesar da participação descarada de políticos, de recursos públicos e de ONGs – a chapa governista foi derrotada.

RC: Qual a situação dos trabalhadores dos seringais hoje?

Dercy: Com relação a terra, os que moram em terras legalizadas, no caso da Resex e assentamentos ou no geral, todos estão sendo criminalizados pelas políticas ambientais. As escolas são de péssima qualidade, não levam em consideração as necessidades dos trabalhadores, como exemplo o ano letivo que segue os mesmos padrões das escolas das cidades sem considerar as distâncias e falta de transporte que os alunos enfrentam no dia-dia.

Não existe uma política que garanta o mercado para os produtores, a prova disso é que em janeiro os seringueiros não tinham pra quem vender borracha nem castanha, pois o preço estava muito baixo.

Os poucos quilômetros de ramal que existem são de péssima qualidade, quando chove ficam intrafegáveis.

A saúde não existe nas cidades, imagina nas áreas de seringais. O único serviço dos agentes comunitários é distribuir cloro para as famílias. Tudo isso faz parte de uma política de expulsão das famílias de suas terras.

RC: Qual a saída os trabalhadores tem discutido para fazer frente à política ambiental que serve ao imperialismo na Amazônia?

Dercy: Depois do desmanche social, promovido pelas ONGs e o governo do PT, nós estamos tentando reconstruir o movimento sindical. Com muitas dificuldades, porque, temos os ex-dirigentes que estão no governo atuando contra os trabalhadores. Como essas pessoas no passado contribuíram com o movimento, uma parcela dos trabalhadores não entendem que hoje eles estão do lado dos ricos. Esse discurso de preservação só é válido para os trabalhadores, enquanto isto, as grandes empresas devastam, agridem de todas as formas o meio ambiente.

RC: Quais os principais interesses políticos por trás da chapa governista derrotada nas eleições?

Dercy: Um dos principais interesses do governo é viabilizar a exploração madeireira no estado. Só que há muita resistência por parte dos trabalhadores em aceitar essa atividade. Porque, como se fala tanto de preservação da Amazônia e o governo quer vender madeira? Pra que atividade mais nociva ao meio ambiente que a exploração madeireira? Portanto, o governo quer controlar o sindicato pra ajudar no convencimento dos trabalhadores.

RC: Qual a posição dos trabalhadores diante das manobras do PT e como tem atuado para defender o sindicato?

Dercy: Os trabalhadores estão agindo com muita indignação; nós temos feito todo esforço pra divulgar todas essas manobras sujas, seja no corpo a corpo, através de carta aberta a população, etc., e isso tem funcionado. A prova é que no dia 18 de julho realizamos uma assembleia com 140 pessoas, apesar da desmobilização que o PT tentou fazer, dizendo que assembleia tinha sido adiada para o dia 26 e agendaram várias reuniões nas comunidades.

A assembleia além de ter tomado conhecimento com detalhes dessas manobras ratificou nossa eleição e posse que continua sendo questionada pelos oportunistas da Fetacre e PT.

RC: Qual a relação do STR na cidade com os pequenos comerciante, professores, trabalhadores em geral?

Dercy: Com a população urbana temos uma boa relação, inclusive no decorrer do processo eleitoral, muitas pessoas manifestaram apoio participando de nossa campanha e se colocando a disposição pra nos ajudar. Agora com outros Sindicatos ou mesmo as associações da Resex não têm aproximação porque todos são pelegos e nem eles querem aproximação com quem contraria a política ambientalista.

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