Resposta aos ataques do jornal Folha de Rondônia – Julho de 2009

Em seu editorial do dia 21 de julho, o jornal Folha de Rondônia lançou mão de velhos e ensebados argumentos para caluniar a Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia e Amazônia Ocidental e a justa luta pela terra.

Com título “O capuz esconde mais que rosto” o jornal inicia os ataques provocadores insistindo que a polícia rondoniense tem provas da atuação das Farc – Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia em Rondônia e de sua suposta influencia na LCP.

As mesmas mentiras foram lançadas em março do ano passado, numa campanha orquestrada pelo governador Cassol (PP) que visava lançar uma cortina de fumaça para tirar os grandes latifundiários e grandes madeireiros do alvo da Operação Arco de Fogo. O fato é que tanto a PF como o Exército negaram a existência da atuação das Farc em Rondônia ou de qualquer outro grupo guerrilheiro. E as mentiras criadas contra a LCP foram desmascaradas completamente através da mobilização de apoiadores e atos denunciando a criminalização da luta camponesa.

Logo no início da nota, o FR diz: “O silêncio aparente na região de Jacinópolis e Buritis, os locais com maior índice de mortes provocadas na disputa pela terra, não mostra a realidade dos fatos…“.

Buritis, Jacinópolis, Nova Mamoré, Rio Branco e Rio Pardo são áreas de recente colonização, locais para onde milhares de camponeses expulsos de outras áreas em Rondônia e mesmo de outras partes do país vieram em busca de melhores condições de vida. Os fatos mostram que os grandes madeireiros e grandes latifundiários se instalaram nesta região grilando terras e massacrando primeiro as populações indígenas e depois os camponeses pobres. A violência dos bandos armados do latifúndio fez e continua a fazer vítimas diárias e nunca são noticiadas pelo FR.

O caso mais recente é o do acampamento Rio Alto em Buritis, área destinada à reforma agrária grilada pelo latifundiário Dilson Caldato com o apoio do INCRA. No dia 12 de julho, Caldato utilizou mais de 25 homens armados para expulsar 120 famílias da área, um camponês foi atingido com tiro nas costas e vários sofreram espancamentos e humilhações. Todos os pertences das famílias foram queimados junto com barracos e alimentos.

O latifundiário contou com o apoio da PM de Buritis, que realizou operação de busca e apreensão de armas no local, dias antes do despejo feito por pistoleiros. E como é de costume ocorrer, SEM NENHUM MANDADO JUDICIAL. Nada encontraram! Os mesmos policiais agora estão escoltando a madeira ilegal, que foi negociada por R$ 1,5 milhão com a família Correia do vice- prefeito de Buritis.

Fatos como este tornam risíveis as declarações do FR que afirma que os altos índices de violência de Rondônia são por conta do que chamam de “violência exacerbada da LCP” e que isto prejudica a avaliação do Estado pelos organismos internacionais e até mesmo junto ao governo federal”.

Em primeiro lugar, não é novidade nenhuma que os monopólios de comunicação ao tratarem da “violência” o façam apenas atacando as consequências, nunca as causas, que são a profunda crise social, política, econômica e moral do Estado brasileiro e em particular a enorme concentração das terras.

Portanto, é preciso ir à raiz do problema que gera a justa luta dos camponeses pobres por um pedaço de terra, que é a questão agrária do país nunca resolvida e que demanda superação imediata e que jamais se dará por obra e graça das classes dominantes. Sobre isto, insistimos que somente uma Revolução Agrária que tome todas as terras do latifúndio e entregue aos camponeses pobres sem terra ou pouca terra pode resolver este problema secular.

Em segundo, ao posar de preocupado com a imagem de Rondônia no exterior, o FR o faz para esconder debaixo do tapete todos os crimes e desmandos do Estado a serviço do latifúndio e contra o povo trabalhador. É muita hipocrisia querer conferir ares de respeitabilidade a quem viola suas próprias leis e os direitos mais elementares do povo, caminhando lado a lado com a impunidade e a corrupção em todos os níveis, senão vejamos alguns exemplos:

1. O governador e seu senador Expedito Júnior estão sendo cassados por compra de votos e ameaças a testemunhas entre tantas outras falcatruas da família Cassol; e o segundo colocado nas eleições do senado Acir Gurgacz foi indiciado pela PF por suspeita de fraude em financiamentos obtidos junto ao Banco da Amazônia.

2. O legislativo e o judiciário estão enlameados até o pescoço em casos de corrupção e disputas de poder para garantir interesses econômicos dos grupos que representam;

3. Grandes latifundiários como Antenor Duarte e Roberto Caldas figuram numa lista recente do Ministério do Trabalho acusados de escravizar juntos 407 trabalhadores;

4. Grandes empresários como o ex-senador Mário Calixto estão foragidos da justiça por envolvimento com máfia de importação de automóveis por valores subfaturados;

5. A polícia orienta, adestra e atua impunemente com bandos armados do latifúndio na repressão aos camponeses pobres em todo o estado, como ficou patente em tantos episódios, como o massacre de Corumbiara e mais recentemente em União Bandeirantes, quando a própria PF constatou esta prática.

No final de sua nota o FR cinicamente, alerta as autoridades de segurança pública para que: “se dê um basta às barbáries provocadas pela Liga dos Camponeses Pobres“, mas nada diz sobre os milhares de crimes do latifúndio e conclui exigindo mais repressão: “Passa da hora de que uma iniciativa mais forte e com apoio de todas as esferas governamentais ocorra na região de atuação da LCP como forma de evitar que mais sangue continue sendo derramado“.

Este tipo de matéria serve exatamente para justificar o massacre constante e para que o sangue dos pobres siga sendo derramado, bem como todo tipo de ataques covardes aos camponeses pobres e particularmente contra os camponeses de Jacinópolis e região. E não deixa dúvida de que estão preparando uma nova campanha para criminalizar a luta pela terra em Rondônia.

Repudiamos os ataques do jornal FR e sua obstinada perseguição à LCP, bem como suas tentativas de querer acobertar os crimes do latifúndio contra o povo pobre, transformando latifundiários assassinos em cordeirinhos mansos, ao passo que trata camponeses trabalhadores como bandidos.

Comissão Nacional das Ligas de Camponeses Pobres
LCP – Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia e Amazônia Ocidental

Jaru, 24 de julho de 2009

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