Vibrante ato em homenagem a Renato e contra a criminalização da luta pela terra

No dia 9 de abril, Jaru foi sacudida por um vibrante ato público e manifestação em homenagem ao companheiro Renato e de denúncia de seu bárbaro assassinato, há um ano. O ato também foi em apoio às novas tomadas de terra na região de Jaru e contra a nova campanha de criminalização da luta pela terra, comandada pelo tenente coronel Ênedy, do 7º Batalhão da PM.
 
Participaram do ato e manifestação, cerca de 300 pessoas dos quatro cantos de Rondônia, a maioria, camponeses pobres, acampados ou que conquistaram sua terra pela Revolução Agrária. Marcaram presença as áreas: Canaã, Raio do Sol e Renato Nathan 2, Lamarca, Primavera e Palmares – de Ariquemes, Jaru e Theobroma; Jacinópolis – da região de Buritis; Zé Bentão e Renato Nathan – da região de Corumbiara. E ainda, os novos acampamentos de Theobroma: Fortaleza, Bom Futuro, Zé Porfírio e os acampados da fazenda Arizona 2.

O ato foi convocado pelo Cebraspo – Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos, além da Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia e Amazônia Ocidental e pela Comissão Nacional das Ligas dos Camponeses Pobres. Também participaram estudantes, professores, advogados, operários, representantes de vários movimentos e entidades democráticas de Jaru, Rolim de Moura, Porto Velho, Belo Horizonte e Rio de Janeiro:, IHG – Instituto de Direitos Humanos Helena Grecco, CPT – Comissão Pastoral da Terra de Rondônia, DCE Unir – Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal de Rondônia, MEPR – Movimento Estudantil Popular Revolucionário, Liga Operária, Marreta – Sindicato dos Operários da Construção Civil, Moclate – Movimento Classista dos Trabalhadores da Educação, Igreja Católica de Jaru.

As intervenções dos camponeses e representantes dos movimentos e entidades lembraram que o companheiro Renato era uma grande liderança camponesa, que viveu, trabalhou e lutou junto dos camponeses de Corumbiara, Machadinho D’Oeste, Jacinópolis e Jaru. Por onde passou, só se houve falar:

– Quando eu estava doente, Renato derrubou no meu lote pra me ajudar.

– Eu estava mal da coluna, toda tarde o companheiro vinha na minha casa saber como eu estava e cortar lenha pra mim.

– Esta ponte e aquela estrada foi o Renato que deu a ideia, nos organizamos e construímos com nossas forças.

– Se não fosse o Professor, não teríamos esta escola.

Renato encorajava o povo a lutar por seus direitos, a não ter ilusões com candidatos eleitoreiros e com as “autoridades” dos governos, a confiar na força de nossa organização e luta combativa. Por isto Renato foi assassinado.

Na véspera do ato, no dia 8 de abril, uma comissão com representantes do Cebraspo e CPT de Jaru e Porto Velho reuniu-se com o delegado Lucas Torres, em Buritis. Ele não conseguiu explicar ou justificar as várias irregularidades cometidas pela polícia no caso do companheiro Renato nem porque não avançaram nada na investigação. O delegado Lucas Torres confirmou que todas acusações contra Renato não tem prova nenhuma, baseiam-se em boatos, nenhum confirmado, são calúnias, expressam a posição de classe do velho Estado: cumprem ordens do latifúndio, da grande burguesia e do imperialismo e oprimem o povo pobre, cometem as violências mais bárbaras e acusam o povo de violento quando se rebela. A reunião com Lucas Torres só comprovou que o assassinato do companheiro Renato foi um crime de Estado contra o povo em luta. Assim como no gerenciamento militar as forças armadas torturaram, desapareceram e eliminaram lutadores democratas. Hoje, vivemos a mesma ditadura de ontem, com a diferença de que hoje leva o nome de democracia.

O assassinato do Renato é um marco. É preciso ampliar e aprofundar a campanha pela punição de seus assassinos. Caso contrário, crescerá ainda mais a violência contra os camponeses em luta.

O povo quer terra, não repressão

O ato também denunciou a criminalização da luta pela terra. Recentemente, a gerência Lula/Dilma/PT anunciou que não vai mais cortar latifúndios, vai tomar os lotes de assentamentos abandonados e distribuir. O Incra não quer nem saber se alguém da família do assentado adoeceu, que o camponês não tem estrada, não tem maquinário, seu trabalho duro não tem valor, não consegue pagar os financiamentos.

Outra medida da Dilma é que só receberá lote a família camponesa que estiver cadastrada em algum programa do tipo “Bolsa esmola” ou “Fomiséria”. É assim que o velho Estado trata os camponeses, como sem-terra, miseráveis, dignos de caridade. Não! Camponês é trabalho, é honra, é fartura, são eles que produzem 80% do alimento da mesa do brasileiro. Não querem migalhas, querem todos seus direitos. Além de tudo, esta política é fascista, uma nova versão do coronelismo, que deixa o povo amarrado, dependente, para angariar votos.

É urgente ampliarmos a defesa das tomadas de terra do latifúndio.

E aqueles que não rezam a cartilha de Lula/Dilma/PT e se lançam para tomar terras, são atacados como bandidos. Todos novos acampamentos foram despejados pela polícia, com muita violência e irregularidades. Policiais estão fazendo blitz nas estradas, criando um clima de terror, perguntando se a pessoa é pertence a LCP, como se fosse crime se organizar e lutar pelos direitos. Camponeses denunciaram que a polícia espancou um jovem e um senhor, inclusive na frente de crianças.

Recentemente, a população da zona rural de vários municípios da região de Jaru denunciaram em programas de rádio que a polícia está perseguindo e sendo agressiva com quem não tem carteira de habilitação, quem está com documentos atrasados e transportam crianças em moto. Nenhum trabalhador anda irregular porque quer. Os impostos extorsivos dos “governos” empurram a população para a ilegalidade.

A ocupação militar de Jacinópolis é outro exemplo da política de Estado de terror contra o povo pobre.

Camponeses que já tem seus lotes regularizados denunciaram a perseguição dos “governos”: agora o camponês tem que tirar GTA (Guia de Transporte Animal) para transportar até porco e galinha, tudo que o camponês vende, tem que tirar nota, para pagar mais impostos. Ao contrário dos latifundiários que exportam carne e soja, o governo libera e eles não pagam um centavo de imposto. Agora, as vendinhas nas áreas rurais não podem mais comercializar botijas de gás, o camponês não pode transportar na moto, no carro nem no ônibus. Mas se derrubar é igualmente proibido, como o camponês vai conseguir lenha, como vai cozinhar? Um morador do Canaã disse indignado:

– Vou trocar de lugar com o burro que puxa minha carroça, porque é assim que o governo trata o camponês, proíbe de trabalhar, persegue, escraviza!

Um só povo, mesmos inimigos

No ato, também foi denunciado a situação dos operários das obras do PAC, com recurso dos impostos extorquidos do povo, como as usinas de Jirau e Santo Antônio, em Porto Velho. As empreiteiras desrespeitam todo tipo de direitos trabalhistas, sociais e humanos e os governos estadual e federal ainda mandam suas polícias para humilhar e reprimir. Existem denúncias de prisões arbitrárias e até desaparecimentos e tortura. Também foi falado sobre a importância da construção e desenvolvimento da aliança operário-camponesa e a união com estudantes, professores e todo o povo trabalhador da cidade e do campo, principalmente no apoio da Revolução Agrária, já em curso em nosso país e primeira etapa da Revolução de Nova Democracia. Conhecermos e seguimos o exemplo dos povos do Peru, Turquia, Filipinas e Índia que travam a Guerra Popular.

9 de abril: Dia Nacional dos mártires da luta pela terra

Esta foi uma decisão recente da Comissão Nacional das Ligas de Camponeses Pobres, aprovada em reunião com representantes das Ligas de todo o país. Esta data é uma homenagem ao grande líder Renato Nathan e todos os outros camponeses e líderes tombados na luta sagrada pela terra.

No ato, foi feita uma homenagem especial aos companheiros Dona Alzira e Tonho Dias. Tanto Dona Alzira como Tonho Dias combateram na Batalha de Santa Elina, sofreram as atrocidades da polícia e pistoleiros a mando do latifúndio. Ambos morreram por doença, agravada no Massacre, assim como Seu Alfredo e outras vítimas que morreram sem receber a indenização, comprometida pelo governo. Esse dinheiro poderia ser usado em tratamentos de saúde adequados, já que não podemos contar com o SUS. Dona Alzira e Tonho Dias ainda tinham muita vida pela frente, mas assim como Renato e todos mártires da luta, todos eles seguem vivos em nossa memória, nossos corações e nas lutas que continuamos.

As famílias que tomaram terra recentemente e o companheiro Renato também foram homenageados com texto, músicas e poesias.

É com muita honra que continuamos segurando a bandeira que estes valorosos companheiros empunharam por tantos anos. Que o exemplo deles continue iluminando nosso caminho de luta dura.

Organização, combatividade e massividade: marcas da LCP

Várias pessoas que nunca tinham participado de uma atividade da LCP comentaram que o ato foi muito organizado, com participação ativa de vários camponeses e com muita combatividade. Isto é fruto de muito trabalho de construção e organização coletiva. Houveram várias reuniões de preparação, onde discutiu-se os objetivos e importância do ato e organizou-se várias comissões para dividir as tarefas: comissão de convocação, de estrutura, de transporte, de cultura e homenagens, de alimentação, de arrecadação, de limpeza, de distribuição de panfletos, de agitação na manifestação e de segurança. Logo no início do ato foi feito um agradecimento especial a todos que contribuíram para a realização deste grandioso ato, desde os que dedicaram dias inteiros, até os que doaram R$7. Toda ajuda é muito bem vinda.

Vibrante manifestação: os bravos camponeses de Rondônia não abaixam a cabeça

Após o ato, os participantes saíram em passeata pelas ruas de Jaru. Manifestantes carregavam firmes faixas e quadros com foto dos mártires da Revolução Agrária, agitavam bandeiras vermelhas, entoavam músicas de luta e palavras de ordem. Uma comissão de crianças e mulheres distribuíam o Boletim da LCP para a população da cidade. Fogos avisavam a todos que uma manifestação da Liga estava acontecendo.

Foi uma manifestação de que não tememos todo o terror que o velho Estado comete contra o povo. sabemos que nossa luta é justa e a levaremos até o fim.

A manifestação foi encerrada com o canto de “A Internacional”, hino dos trabalhadores em todo o mundo.

Ao final, uma professora que saía do local do ato foi ameaçada por um policial militar em uma viatura. Ele parou ao lado do carro da professora e com o dedo em riste disse:

– Aguardem!

Todo ódio e violência é porque incomodamos, somos um movimento importante, forte, organizado, que trava a luta mais importante de nossos dias e que atrai o apoio dos setores mais democráticos do país e do mundo. Rebelar-se é justo! Os latifundiários, seus gerentes nos governos e justiça, seus agentes na mídia vendida e seus cachorros pistoleiros e policiais prendem e assassinam nossos líderes para amedrontar os camponeses, demonizam nossa luta, perseguem o povo pobre. Mas não nos curvaremos. Somos trabalhadores honrados que juntos dos operários, estudantes, professores, pequenos e médios comerciantes, carregamos este país nas costas. Tudo o que conquistamos é fruto de nosso suor, nosso trabalho e nossa luta. Aumentando nossa organização e luta combativa no caminho da Revolução Agrária, conseguiremos tudo.

Senhores latifundiários, vocês é que não perdem por esperar!

LCP – Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia e Amazônia Ocidental

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